terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sobre a espera sem razão.

Você me tirou de casa em um dia bonito

Transformou a minha não-expectativa em algo que eu pude me dedicar

Você me deu uma ocupação e me fez sentir importante, mesmo não sabendo disso tudo

Ou que isso tudo pudesse ser tudo isso pra mim.

Você me fez acreditar na minha beleza e ser um pouco mais confiante

Me mostrou algo que eu pudesse pensar e falar, algo que pudesse me distrair por algum tempo, até a volta às minhas incertezas, medos, meu ócio seguro, meu lar

Sem saber, você me mostrou o céu, me expos ao vento que me torna sensível

E eu senti medo, como não sentia há algum tempo

Me fez ver as ruas que os homens inventaram; eu vi com olhar de estranhamento.

Me fez lembrar. Me lembrou que todos os dias eu poderia estar disposto.

Eu poderia ver tantas pessoas quanto meus olhos alcançassem e todas me seriam novas, todos os dias.

Me fez lembrar a beleza das pessoas, o asco, a desconfiança, o desejo, a má intenção, a mesquinharia, a pressa...

Eu olhava de baixo, um olhar pedinte queria mostrar indiferença. Interação pensada

Eu calculei qualquer gesto, era o medo.

E nessa hora já não tínhamos nenhum elo.

Você me deixou por ali, e o que parecia incompleto por realmente ser, tornou-se tudo o que eu podia saber.

Por um momento eu pude me desprender, mas algum tempo a mais e meus músculos não agüentariam a tensão.

Foi quando eu quis ser uma pedra em toda minha estática, foi quando eu quis ser diferente

Foi quando eu me perguntei se um dia isso acabaria; foi quando o sonho e o devaneio acabaram.

Talvez sem imaginar, você me fez ir pra casa, sozinho, sem motivos pra ter saído

Alargar as minhas asas, mas mantê-las curvadas, no espaço de um pequeno aquário.

E sem outra opção, talvez arrependido, eu volto.

O mundo me distrai, mas o que se foi é marca, não sai.

Você me fez pensar mais uma vez: tenho medo de lá fora, não quero ir.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

sincronia

Bebe água. Não demora pra não parecer ocioso. Não te esquece que nada dessas futilidades teriam graça se não fosse por não poder fazer... o ócio que só é bom quando reprimido. Faz alguma coisa que tenha um resultado aparente, que é pra poder falar quando te perguntam. Diz também que tá cansado e que precisa de uma folga; não tem importância, no fundo ninguém mesmo vai saber e com algum esforço até tu mesmo acaba acreditando nisso, no aparente. Porque, eu não sei quanto aos outros, mas contigo, qualquer segundo, mesmo ali naquele sofá de sempre, o devaneio do espírito é fluído e isso se transforma em mais um reflexo àquelas coisas tuas, aquelas que vão além do que se vê ou do que se pode falar. Sabe né?
Toma banho e almoça; escova os dentes, arruma a cama e o quarto; lava a louça pra sujar depois. Enfim, faz o que convém, e que faz o tempo passar de qualquer jeito. Agora, esquece um pouco dessa barreira que tu utiliza, aquela, pra dizer quanto falta pra saber daquilo que tu quer ou pra ver quem realmente importa ou pra fazer alguma coisa que faz o tempo correr um pouco mais... esquece isso e repara como é vã a tua existência. Tentando saltar os números que deveriam ser somados. Mas tu fragmenta. E ainda é feliz a cada fragmento morto! E eu digo que tens razão, acho que não tem outro jeito quando o vento sopra espera.
Entre abrir e fechar as cortinas da casa, tu pode também acabar chorando ou sendo muito feliz, e assim como a cortina que tu fecha, o sentimento se esvai. É normal mesmo - eu te digo sorrindo - nesses momentos... esses.
Fala com alguém, escreve alguma coisa... Fica visível pro mundo né, pra que tu não te afogue nesse mundo todo dos teus pensamentos e ainda mais, pra que tu não te esqueça das cores e das dores lá de fora. Não te esquece disso. Antes de dormir lembra do teu rosto, e lembra que eu te acaricio e que tu é feliz assim, assim como eu sou contigo. Liga o ventilador... apaga a luz... desliga os botões luminosos..; ou então vê tv e depois vai pra cama cambaleando. Eu te amo.

E faz isso todos os teus dias. Não são teus. Os dias do tempo, até o dia, esse, teu por direito, ser teu nas tuas mãos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

qualquer bobagem

Eu queria alguma coisa que pudesse interferir nas dimensões do tempo. E como se não fosse mesmo um desejo óbvio, no fim das contas. Um grito, interferência sonora.

Eu queria também entender por que as palavras conseguem, com tamanha facilidade, limitar qualquer coisa que possa ser... e mais uma vez eu cairia na limitação das palavras, se de fato eu continuasse. Prefiro ser incompleto. Limitam-se, inclusive, os sentimentos, seguindo palavras e convencionalismos, a represa de um rio.

Às vezes eu só queria saber por que eu sinto desse ou daquele jeito. Tirar o asco do peito através de um pensamento coeso, que compreende e cuida. Eu acho que tô fazendo melodrama.

Talvez fosse isso mesmo, simples, que nem se vê passar.

Eu afirmo com a maior certeza: encontro-me entediado de absolutamente tudo aquilo que não era meu desde sempre. O mistério resolvido, o brinquedo velho. E eu não minto ao dizer que tenho grandes sentimentos: frustração, preguiça, sono... segue a linha.

É o olho. O olho desejoso da novidade. É o namoro seguro que perde a graça diante de uma possível entrega à, moralmente falando, puta. Mesmo que ela seja feia. O gosto doce da imaginação de um beijo. O que atrai em sua genitália é o cheiro do mistério novo, assim mesmo.

Assim mesmo. Assim humano e torto. Bem do jeito que você não pode fugir à essência, nem eu. Não faça o novo moralismo e admita antes que seja cedo, ou tarde, como for. Não tem mesmo como mentir, e Hércules só houve um. E se outro houvesse, ele saberia respeitar a parte podre do ser que vida, que tempo, que prazer, que morte.

sábado, 24 de outubro de 2009

tudo que somos

A cidade passa... a cidade é o tempo. Destruída aos poucos em novos obsoletos escombros, e diferente, ao mesmo tempo, por novas torres e enfeites.
A iluminação da cidade, os postes e a luz. Os meus ponteiros. A cada nova parte, às vezes vejo com maior clareza e eu sinto a segurança das mesmas cores e formatos memorizados. O escuro parece vazio. Como na vida, os postes vêm e vão, como uma cena de um filme bem tramado. Um ciclo. E a totalidade é grande demais pra ser alcançada ou mesmo mensurada. Infinito.
Fazer tudo parar e olhar pro céu, mas as edificações tornaram-se o cabresto do entendimento do todo. Compreender o agora é pouco pra nós. O agora é orgânico, está na pele e nos olhos, nas orelhas atentas... O horizonte interrompido pela fraqueza humana é o que intriga. A fraqueza e a petulância do homem, as minhas amarguras. Por que não a serenidade de deixar que as ruas se passem, porque assim têm de ser? E a minha observância dá espaço às nascentes de mim, e eu sinto, e a lágrima flui, e assim evidencia-se mais um ciclo. Ironia.
O tempo, o mecanismo que, admito, nunca entendi muito bem. Antes, a favor e contra. Agora, à(a) parte. E só por algum tempo, até que o tempo me faça perecer e me torne cenário morto pra qualquer devaneio... uma música que parece não ter fim. Infinito.
Isso é tudo. Isso é tudo que eu sei. Tudo que eu consigo ver. Tudo que eu posso reter no pequeno espaço do que me faz ser, do que eu faço ser.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Percepções

Por entre todas as velocidades desordenadas que se dão pela fluidez do caos presente nos itinerários das ruas da metrópole, detalhes omitidos são capazes de revelar grandes coisas. Num instante que passa desapercebido nos tão presentes relógios das cidades, e a observância pode lhe trazer as mais íntimas percepções daquilo que é sensível. A solidão no silêncio, a paz na alegria alheia...
Eu observo. E a reflexão é consequência, e para todos. Mesmo na vida de quem luta contra a gravidade dos ponteiros que giram além do que os olhos podem observar, inevitavelmente em nossos carros, enquanto estáticos no trânsito, ainda hoje nos vem à cabeça a pergunta antiga e talvez a mais complexa de se responder: o porquê de nossas existências.
Talvez nunca saibamos, por maiores que sejam os avanços cientificotecnológicos que hão por vir. Talvez isso não importe, deveras. E talvez o tempo nos condene antes de qualquer conclusão. O certo é que devemos sentir cada segundo que temos, e sermos coerentes com o que as entrelinhas da vida sopram. Assim podemos ser felizes, ou que sabe, tristes. De todo modo seremos mais vivos pelo caminho do sentir.
Não estaremos na contramão das rotinas contemporâneas. Devemos, sobretudo, amar nossos objetivos e prosseguir, mais fortes, por eles. Por nós. Fazer valer o sentido do momento. Lembro-me de uma frase de um pequeno príncipe: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. E o que cativas em ti mesmo? Sejamos cônscios com nossos sonhos, e responsáveis de nossas direções.
Mas os momentos de observância se passam, bem como o trânsito tende a fluir, cedo ou tarde. As percepções também se vão, mas cuidemos para que suas marcas fiquem em nós mesmos, para sempre.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

crime

Se toda a propriedade usurpa,
eu te roubo.
Sim, e sigo as regras:
não peço opinião e nem
respeito tua vontade.
Te faço meu, minha posse,
te alimento e te completo.
Te guardo no meu quarto.
Se disseres, por acaso, que
estou contra a lei,
digo que minha lei é natural:
a vontade que tenho é zelo necessário,
pra que não te façam mal.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Diferente

Diferente. Alguém normal chamaria de estranho.
É que estampas de surf não fazem o seu tipo, e quando o melhor a se fazer for esperar, ela tem por costume se apaixonar por pessoas desconhecidas. Às vezes até imagina como seria, vivendo juntos. A vida a dois dura até quando puder lembrar dos traços do rosto, ou até que outra existência seja mais egoísta e acabe fazendo esquecer... é que ela é assim, apegada mesmo: não era difícil a fazer amar.
Enquanto o tempo passa, ela se distrai e, ao longo de fatos que se passam, tão bonitos, que se fosse possível desenhá-los, que se fosse possível codificar a emoção de forma simples... ela guardaria em um caderno de fatos belos. Um pai, e três filhas: ela sorri e chora ao ver a confirmação de que a vida deve seguir, no sorriso da criança, que parece tão mais segura da vida que esta leviana garota, fruto de nossa observância. Ela chora ao ver a felicidade num detalhe que quebra a sincronia dos ponteiros e torna infinito o itinerário de apenas mais que trinta minutos, no ônibus, da casa à escola.
Ela descobre e admite. É diferente, deveras. Por fora, algo que nem sempre demonstra ou faz algum sentido, como se uma casca dura, resultado do mal que lhe fizeram, algum tempo atrás. Mas falar sobre isso também já não faz mais sentido. Por dentro ela descobre toda a delicadeza e sensibilidade dela mesma, afinal, ela sofre mesmo, quando pensa em coisas como o efeito estufa, deficiências físicas, a dor da perda ou da ausência, a falta de água ou mesmo na saudade que fica de sua mãe. Ora, ela não sabe bem o que dizer e prefere não arriscar. Irradia o que tem de precioso através do sorriso que direciona à criança..
Por dentro é a maior pérola, às vezes chaga.
Como sempre quis.

domingo, 6 de setembro de 2009

O Sopro

Porque diante de somente um sopro teu, somente um momento que pra ti é nada além de fazer passar o tempo, que me fazes brilhar os olhos.. Teu sopro, a minha melhor inspiração. Algo que não tem sua forma revelada em linhas de raciocínio ou vias de sentido, que não se limita no tédio das coisas explicáveis.. Nossas linhas tortas, nossos atalhos que nos levam a lugar algum (se ao menos pudéssemos estar em algum lugar juntos!..). Nossos. Cada veia minha torna-se raiz de ti em mim, e o que dá vida às raízes são teus sopros e minhas inspirações, bem sabes que as melhores são vindas de sopros teus. Talvez tu não saibas..

Mas o que procuro mesmo manter em segredo são as consequências de tuas vindas repentinas.. Teus sopros que dentro de mim atentam a todo canto e detalhe, como só quem ama é capaz de dedicar tamanha atenção (EU TE AMO!). Devastam esculturas e fundações de certezas que aos poucos cuidei em mim mesmo. E o que me trazia sentido viver por, torna-se agora confuso. Por que fazes isso? Às vezes sinto que sabes o quanto teus sopros, olhares e palavras manjadas, que conheço a falta de verdade em tudo isso, são suficientes para aumentar minha entropia.

E me deixas. Através de um simples fato, me deixas à flor da pele, são as consequências de tuas raízes entranhadas em mim. E depois que vais, torno-me mais sensível às coisas e pessoas que vejo passar com pressa, deveras, através das janelas que se tornam minhas, enquanto realizam trajetos que não me fazem sentido algum (eu só gostaria de ir aonde estás.).. E tudo fica mais intenso. Meu bem, depois de tua presença, eu sinto que eu estou vivo! Mesmo que através da dor da tua ausência, eu sinto, agora.. Eu noto a amargura das minhas escolhas sem sentido, uma questão de sobrevivência; porque só enquanto tenho teu nome em minha boca é que posso, de fato, falar de vivência. Mas me deixas, e as ruínas que sobram em mim já não me interessam tanto assim..

Devo ainda dizer que eu sinto, como alguém que se devota à fé, que hoje estamos mais próximos, amor. E por isso eu peço, num sussurro, num pensamento, num grito... vem! Agora vem! Permita-nos a troca... Estou disposto, por mais que a tua partida se faça real, em breve.. Se puderes, traga-me a vida que tens, e eu serei feliz mesmo depois, por entre tuas recordações... que serão minhas também.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

eu me perco

E, por vezes, eu subo no pedestal e [me] apresento as prévias de umas palavras por meio do que talvez possam sê-las, próprias. É o afinar dos sentidos da maneira mais doce. Ou talvez, da mais verdadeira. Ou talvez nem isso. O que atenta é o ato e o que fala é o fato. Que ato? Pré-ato.

O fato é a dor de um silêncio provindo de tantas palavras, ou no caso, o vazio das longitudinais que dão sentido às orelhas, a falta que busca na lembrança o que marca, e tudo que marca não passa de dor. A saudosista, que sofre pelo que se foi, ou a ferida viva que arde no aqui-agora.

O ato é a reunião de palavras não ditas. Elevo-me em mim para expelir o que não é compatível à fala de forma alguma. E o que hoje eu não sei pensar. E se sentir fosse suficiente.. sentir é o bastante e nunca o suficiente. Pois existem nossos discursos, que, em escala de grandezas (todas) que não podemos tanger sós, não passam de sons periodicamente incompreensíveis. Se sentir fosse o suficiente, nossas falas dariam espaço a um silenciar. Não esse, feito de ausências. O silêncio que por si é completo.

Eu me perco.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

decoração

Decoração,
de côr, àção,
de coração.
De cor-ação:
de côr a são.
De cór, ação.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

é na dor que surge a força de querer transformar

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O limite quase imperceptível entre a bela verdade e a mentira que marca

Eu não sei ao certo por quê. Quem sabe por que ao fim dos dias, o que sobra além de mim são as minhas ausências, e as luzes que se mantêm acesas enquanto a realidade é a presença que também me acompanha. Talvez seja mesmo por ti.. pela tua vinda inesperada, pelo teu jeito que superou o imaginado e foi melhor do que qualquer forma que pudesse vir de mim.. pode até ser por um capricho efêmero que busca os teus olhos e as tuas feições.. por que não poderia ser?.. É possível que um cansaço que transborda em mim, vindo da dor de quem espera por um sopro do tempo, justamente quando tu vens... então, talvez sejas tu o meu sopro. Ou talvez, eu só esteja errando, quando tudo pode ser...
Mas não há valia em se expor as raízes, quando o que aflora em mim tem sido tão nítido e ultimamente tão experimentado. São os efeitos de algo que agora não importa por não poder ser conhecido. Eu tratarei de sentir seus efeitos!
Eu os sinto. É como a esperança de uma existência, mesmo que por pouco ou pouquíssimo tempo, que possa acompanhar a minha e se deixar acompanhar. É como se tudo que fosse diferente nos meus dias tomasse uma relevância, deveras, e então eu poderia lembrar-me de ti e mais tarde eu poderia até te contar... Entende? É uma forma, mesmo que depois eu possa descobrir que de mentira, de existir em outra existência, com mais força, e que tu também o faças. É por nós! É como lembrar e pensar em ti quando, pelas ruas, pelo meu itinerário que me ata, não há nada além ou mais puro em que eu possa pensar. Ou como um tolo, esperando por tua presença. O que pergunta por ti não se aquieta até uma resposta, e quando vens talvez eu pareça indiferente, tentando esconder essas percepções que tanto me ocorrem.. Pode ser como lembrar o teu nome, e sorrir, brando.
Mas isso tudo pode ser nada além de um estado febril vindo da dor de uma existência só.
E é por nada além dessa dúvida, que por ti, calo todos esses sentidos. Tenho medo. Tenho por ti. Não quero lhe apresentar ao meu infinito confuso, não quero confundir-te. No fundo, por todo bem que pareces me oferecer, não seria certo que nem ao menos a possibilidade de te fazer mal pudesse existir.
Mas essa, que fique claro, talvez seja só mais uma de tantas hipóteses.. já que tudo, um dia, pode ser.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DOR

Eu não sinto nada em mim além da dor, maior que eu. A expiração é um sopro cinza, que morre ao sair da boca. Os sussurros da voz são os gritos rasgados numa garganta contida. Os passos são a condenação do tempo. E as lágrimas são a materialização da minha ruína. Eu não sou mais eu. Eu sou um corpo de dor. Eu busco, me contorço, me machuco, fecho os olhos, abro a boca, mas a dor não é física! E não há posição alguma que alivie meu tormento! E não há nada aqui além de uma existência triste ou já não há existência. Os meus olhos que já nem conseguem mais enxergar e o coração que, acelerado, pulsa forte a dor que arde em todo corpo, compassando as minhas horas de dor que insuportavelmente me enganam.

domingo, 12 de julho de 2009

A visão do que sufoca o peito.

Não há nada que acentue tanto a certeza do meu amor por ti, quanto a própria dor que sinto ao ver-te numa noite de poucas estrelas no meu céu cinza. Teu céu e tuas estrelas que devem ser especiais, e então eu peço a uma estrela cadente, perdida no teu infinito, se entrelaçar ao meu céu de um escuro interminável..
Mas, dentro de um infeliz segundo, inesperado, que tuas estrelas se envolvem em uma dança com outras estrelas que não as minhas. E minhas lágrimas desabam de um céu triste, e a dor machuca o peito, feito a chuva e os raios numa tempestade. Tanta água, mas o que deveria ser fértil continua seco e sem vida.
Bom é saber que todas as tristezas, um dia têm um fim e que todas as tempestades, um dia vão embora. E mesmo que, por mais uma vez, eu perca o sentido, eu juntarei as forças minhas, e buscarei aonde puder encontrar, mesmo que em fontes descartáveis ou em sonhos de mentira.. assim as coisas tendem a voltar ao seu (novo) lugar.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Saiba.

Quando a embriaguez toma minhas veias e se torna parte integrada de meu corpo, e quando as gotas de chuva traçam rotas sobre minhas imperfeições em retas e curvas, eu sinto seu olhar - que mesmo tão indecifrável eu posso afirmar que não estranho – me trazendo algo novo.

Em algumas horas simples que sem você não seriam tão corridas, deixei-me estar vulnerável aos seus intencionais – ou não – toques cautelosos, palavras calculadas, jogo de movimentos e, repentino, vi meu castelo de frieza e de proteção vindo, a tona, abaixo. E hoje, num [des]encontro, você retira o que é explícito e o que me resta são meus pensamentos que permanecem em ti, tão recentes, tão confusos.. Vem! Vem ser meu!

Vem, rápido! Porque eu queria que todo pudor se esvaísse num grito uniforme, desejoso de tua boca! Minha boca? Meus olhos? Meus gestos? Meus atos? Nunca ouve força maior que tanto os calculasse! E a trajetória é sempre essa, quando sinto a força de tua existência confrontando meus desejos. E se, por acaso, minha boca e meus olhos estiveram bem desenhados ao teu lado, deve-se ao fato simples de estarem ao lado dos teus, a força do desejo de serem notados por ti, inteiro.

Apenas vem! Porque no mesmo ritmo que aumenta o fluxo da chuva, minha vontade de tornar real este que agora é desejo concreto de ti aumenta! Se houvesse ao menos um canal que ligasse a voz de meus desejos e a escuta da tua mente... ao menos eu teria uma tentativa.. e eu gritaria na tua mente o que agora é certo: eu te quero sem dúvidas.

Mas no fim das contas, eu abro minhas pernas e evidencio nosso contato: a minha pele e a sua pele em uma unidade que ultrapassa qualquer lógica existente: erupções individuais e um coletivo (nós) químico, expressando o que os vocábulos erroneamente diriam como ‘na ausência de minha querida presença, ou mesmo de qualquer presença, hoje você me completa e me basta’, ocultado a esperança da pureza de qualquer sentimento nobre.

Agora a lucidez já é parte de meus sentidos, e antes que por inteiro, me entregarei num sono de inexistência, buscando a pureza num sonho infantil, mas sem medo de te encontrar naquilo que o consciente não tem o poder de controlar.

terça-feira, 7 de julho de 2009

infância

Quando eu reparo nas nuances daquilo que cobre a terra em disritmia com meus passos rápidos, por algum momento breve eu sinto que a realidade se afasta e então eu me permito ver o que ela não permite. E isso é possível só durante o tempo que eu posso caminhar em sincronia com os pensamentos, sem medo. E isso, é possível quando eu me encontro num passado palpável, não o que prendemos em nossos infinitos; mas o passado que temos hoje, e que quando nos deparamos, circunstancialmente nos envolve, brando. A materialização daquilo que nem mais nos pertence – porque o tempo já tomou as nossas marcas e o que era nosso.
E eu sei que é só nesse quadro vivo, um engano d’um passado e a negação certa d’um presente. Só lá eu vejo o meu lugar que não me pertence. Abraço um tempo que não passa com a mesma força dos nossos minutos, me perco em três ponteiros tortos de um relógio branco. Sorrio para velhas lindas cores. Um verde calmo e um azul sereno. Um cinza falante e umas cores verticais difíceis de serem nomeadas. E só eu lembro tudo que essas cores têm de mim. Mas respeito também as novas cores. Cores que [ir]realizam ainda mais o meu lugar.
Sinto a melancolia nostálgica de um domingo em todos os detalhes, até daqueles que cobrem a mesa ou se encontram jogados no chão. Envolvo-me até nos meus olhares mais sinceros e me pergunto por que os abandonei ali... Eu rio quando encontro o meu medo de andar no escuro. E quando o escuro é certo, olhar pro céu é sentir o universo.

E eu fecho as entradas da caixinha até a próxima vez que o sentido me faltar à mente.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O início...

(mas todo fim, no fundo é uma canção que atrai um novo início...)

terça-feira, 30 de junho de 2009

ao fim.

É no fim do dia,
depois que o sol se põe,
e quando falar de um céu azul já parece loucura;
é quando as músicas não podem ser ouvidas;
é quando a alegria cega se desgasta,
e quando, em seu lugar, a incerteza preenche o vazio deixado;
é quando não há mais calor pra abraçar um corpo só,
e quando o frio que chega nos pede proteção;
é enquanto a própria presença se cansa,
que a ausência arrebata a existência;

é quando a luz perde a força,
e o que resta é o escuro,
que me impede de ver o mundo,
e minha dor é único grito;

e, ao desenrolar dos segundos,
o que era dúvida torna-se certeza,
e ao fim, o depois,
que só é ocupado pelas lágrimas que correm;

no início, um dia que ameniza o susto,
e as dores pareciam tão distantes,
e eu me encontrava tão lúcido...
e no fim, o escuro que me tira os fundamentos,
e o que sobra é a fragilidade,
e já não sei se o que sinto é medo da dor ou a própria dor..

Na ausência do que me conforta
percebo que segurança ainda é distante,
aprendo que a calmaria é passageira
e o que sobra ao fim (de mim mesmo)
é um sentimento, fluído, do meio do peito, vai suave aos ombros
é sinal do meu amor e da sua recusa
e ao fim, só o amargo de existir é o que resta.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

..mudanças..

Já não é mais de ti que eu falo nessas minhas deixas secretas que só a ti foram expostas.
Já não fazes mais parte da minha realidade e raramente sais pronunciado da minha boca.
Hoje, és um sonho, ruim, que se passou (jamais um pesadelo).
Mas eu não seria verdadeiro, deveras, se dissesse que não habitas meus pensamentos, ainda por um breve tempo.
O agora, secretamente (revelado), sinto-me despido e sei que dentro de mim ainda te encontro em turvas imagens, recordatórias de paz e horror.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

motivos pra seguir.

Hoje eu sinto tudo tão diferente.. talvez sejam minhas percepções, porque desde que eu me recordo, não há grande mudança nesse(s) universo(s) que nos rodeia(m).. Eu sei que não sou alguém que sabe muito e nem sobre muitas coisas, apenas o que eu falo gira em torno do que eu sinto e do que eu penso, a cima de tudo. É estranho... o homem e suas concepções vivem ciclos que renegam o passado, e buscam uma nova essência no que antecede ao passado, assim sucessiva e gritantemente.
Hoje, eu sinto tudo tão diferente. É como um jogo, de convenções, em que os vícios e o egoísmo e as novidades aceleraram demais o ritmo do jogo. Em que pessoa nenhuma é capaz de acompanhar naturalmente, ao mesmo tempo em que não há como desprender-se de nosso inventado e incontrolável passatempo. Hoje eu sinto, tudo tão diferente. Minhas sensações, contrastadas ao meu existir, tornam-se pesos impossíveis de carregar. Tudo o que se pode absorver é exaustivo, gritante e doloroso. São as crias do nosso jogo, complexas em demasia. Nosso jogo, o jogo do absurdo. Busca-se compreendê-lo sem esperar uma resposta, além da reflexão. E, obviamente, ficamos sem respostas.
O que mais me dói é ver que as pessoas perderam o valor e os valores. Destes últimos, alguns deveriam mesmo ser esquecidos, mas outros, como a inocência e o respeito que se foram, nos tornam menos humanos, no sentido inventado da palavra. Hoje, coleciono nomes dos mortos nos telejornais diários. E o que mais me afeta é o sentimento de solidão. As pessoas têm sido menos gratuitas, e o sentido da amizade tornou-se apenas ‘ter alguém pra horas difíceis’.
Mas algumas coisas jamais perderão o sentido, como a ternura de um céu ensolarado, o equilíbrio de um céu estrelado, as luzes, à noite, na cidade, a pureza num sorriso de uma criança, fazer bem às pessoas que me rodeiam... e assim eu busco motivos pra seguir.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sejamos um!:

Quando penso, prefiro não pensar. Prefiro não ser, tenho preferido. Tenho escolhido viver apenas quando convém. Às vezes morro de dor, mas usualmente me mantenho morto. Dizem que não há nada pior que a morte, mas enquanto não há vida, não há dor. Dizem também que não há dor maior que a dor da morte, mas como podem saber se nunca ousaram? Há tempos não me sentia tão morto..

Quando eu olho pra você, não sei o que grita mais alto. Se a euforia do amor que eu sinto que me estremece e estremece meus pensamentos, se uma paz, nua, por tamanho bem que você faz aos meus olhos, ou se é a dor de saber que por mais de perto que eu olhe, por mais que o tempo se estenda, eu não poderei te tocar, e em momento nenhum nós seremos, juntos. O fato é que esses gritos - de uma boca silenciada por um suspiro que me invade e rasga, e deforma, e massacra, o sentido que não é simples de se conquistar – são simplesmente sons de um coração pulsando, a batida que me traz à vida.

Triste (é o seu) jogo, este o qual meus olhos brilham por (você), que não tem lógica que explique (sua ausência sentida) e nem justiça que condene ou defenda (suas jogadas frias). (com você) Eu não sei jogar sem entrega, e o que sobram são gritos de silêncio (com seu nome ecoando nas paredes e fazendo sentir a presença da tua ausência).

E o silêncio que invade as orelhas dói. Os lugares onde eu te vi machucam os olhos e os gritos continuam silenciados. Essa é a dor de quem espera, me torno por mais uma vez um prisioneiro do tempo que me ata – me isola amargamente e me cura, brando.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

o que além disso deve ser o viver?

Talvez hoje, talvez só agora, alguma coisa importante em mim mesmo tenha acompanhado as transformações que tão presentes e imperceptíveis se passam em meu mundo - que é todo meu...
(Trans)formo minhas próprias visões (literais ou não), e agora me sinto bem. Eu sinto. Eu percebo, eu sinto!

Meus dias têm sido particulares e neles – em mim – transpiram lembranças, novidades, músicas, poesias, textos filmes livros, tudo em forma de sensações que eu mesmo clamo ou então resisto enquanto puder diante da mais fantástica degustação que a nós, frágeis humanos, é possível comportar: sentir
Tateio o sentir, meus poros expandem-se e as sensações me vestem cobrindo toda pele, à flor da pele.
Sinto como se um frio, e o que eu sinto na pele sintoniza meu corpo, como a leveza de uma brisa qualquer...
em que já não se conhece o que se sente, em que a sutil linha que separa dor na pele e prazer na pele já fora infringida.

Eu lambo o sentir. Sinto seu gosto no amargo no doce no azedo no salgado da língua.
Abro a boca – e de olhos fechados me livro de pudores me entrego me permito, enchê-la do que me faça sentir.
A língua busca mais; lambuzo-me.

Eu arregalo para sentir. Eu vejo dentro de mim, vejo fora de mim, vejo longe, vejo perto... vejo de olhos fechados, vejo de olhos abertos..
vejo até o ardor que me provoca o sentir tocar meus olhos que repelem as lágrimas – aquilo que meu corpo expele.
Pupilas dilatadas, olhos bem abertos para aumentar a sensação.. às vezes meus olhos se cansam e às vezes descanso meus olhos e vejo de outra forma..

Inspiro sensações, para que por dentro possam ser transformadas.
Faço força e barulho, num ritmo que se torna a música de meus sentimentos..

Eu ouço o sentir. O que pode ser sentido invade meus ouvidos e penetra sem consentimento e com tamanha força.

Meus ouvidos decodificam e não há forma alguma que possa igualar a transmissão do sentir de forma tão bela. Ou dolorosa. Ou sensível, por si.

Dias privados, mas dias em que estou aberto, receptivo... dias únicos. Dias íntimos. Exalando a maior força de sentir, acentuando percepções. Minhas dores têm sido mais intensas e minhas alegrias mais vividas.. Eu percebo, e sinto muito. Tenho vivido de sentir.

Difícil é compreender, harmonizar-se com o que é ‘invisível’ aos olhos. Mas dizem, e creio então, que sentir é essencial. Difícil é, além, buscar a felicidade eterna, a responsabilidade de ter bons dias pra sempre.
Pois hoje, e só agora então, eu ouso romper e transformar. Ouso não deixar meus dias passarem despercebidos. Tristes, felizes, sobretudo sentidos, para que façam sentido. Isso! Não despercebidos! Perceber, sentir... o que, além disso, deve ser o viver?

... E se ao fim de cada dia o sol se por (e ele tem se posto), é porque tudo está como deve estar, como tinha de ser.. É porque as loucuras contemporâneas ainda não espantam o tempo e o mundo, e sendo assim eu devo seguir, na ciranda insana dos dias.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

palavras a alguém importante..

[...] Eu me perco na infindade dos pensamentos e das possibilidades enquanto busco explicações, justificativas, enquanto tento organizar em palavras um rumo pra mim mesmo.. mas não funciona mais.. Não sei o que mudou, se minhas concepções sobre tudo ou se as próprias coisas.. Hoje tudo me parece turvo e as palavras se escondem... Não sei o que lhe dizer, e nem a mim mesmo, além de palavras manjadas como o óbvio que tento acreditar e me apegar;
Eu me perco, perco o sentido e às vezes sinto-me longe do que é lúcido; medo, ausência, coleção de derrotas, tempo desperdiçado. Tudo acumulado, e tudo recomeça. [...]
em meio à tempestade.

domingo, 31 de maio de 2009

o que se passa.

explosões mentais me dão dor de cabeça. tanto faz.
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P.E.V.:
Penso que são poucos, em uma escala relativa, que buscam sair de suas cômodas trajetórias retilíneas, ou deveria dizer circulares, em que já não se conhece o começo e não se objetiva fim (finalidade); em que a repetição torna-se rotina: não há algo novo.

Penso que esses poucos, de boa intenção notória na vontade de ser, ir além de círculos, acabam se tornando vítimas de uma convidativa emboscada, velha nova forma de movimentação, tão plástica e aprisionadora quanto a primeira. Talvez em um lado oposto, visto de cima. Apenas por não querer circular, anda-se em caminhos feitos, diagonais manjadas, ameaças aparentes escondendo outra forma, tão triste e alienada.

Penso que são raros os que sentem. Penso que são raros os que se libertam de trajetórias feitas, ilimitados passos e formas de passos. Raros e admirados são os que desenham uma trajetória nova, própria e amorfa, fazendo do destino (o seu) desenhos cegos, tão livres, tão bonitos, simples em ser, tanto quanto um quadro abstrato.
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Isso é o teatro, um exercício de estudo social. Eficaz, creio.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

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Tu achas que arte é arte? Arte é qualquer coisa bem criticada!
Isso sim!
Nesse mundo sujo, nada é o que parece ser
!!
Nada é o que parece ser.

Tire uma foto de minha morte. Pinte um quadro. Qualquer coisa bem reputada torna-se arte, por que não a explosão de ideias confusas e contrárias? O sangue é vermelho, vermelho é visível, esteticamente agradável, ou confuso, sobretudo aceitável.

Ideias confusas e contrárias, nada concreto. Talvez, se a morte vier depois.

terça-feira, 14 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

quanto tempo?

Como é triste a dor de quem espera.. É a dor que espera arder enquanto colide – a aparente cura – com o invisível, com aquilo que foi criado, e por assim ser, duvida-se a existência.
Como se pode depender do que não se vê? Como acreditar, como confiar, respeitar; como ninar a dor numa canção que não se dança e não se canta e não se ouve...?

... e hoje, no silêncio dos segundos que me prendem tal qual a gravidade. No branco frio das paredes que envelhecem (envelhecemos) a cada minuto, cinco minutos.. eu controlo, sem controle. Na solidão das horas que se estendem e quando acabam, recomeçam. Dias que por mais diferentes, acabam todos iguais. Semanas que vejo, como um filme, na mente, repetindo-se numa dimensão que não posso tocar, se ela puder existir. Meses e novos planos. Anos e novos anos, e, hoje, e sempre, as mesmas coisas...

E no ‘final’ a dor da espera continua viva; a ausência, da cura; a dependência do tempo, a (cega) certeza de que, quando ele passar, passará. Ainda assim corremos contra o tempo em busca, a busca, não se sabe ao certo, talvez provar a importância de cada existência, não passar em branco. E ainda assim empurramos a engrenagem circular tempo pra que a dor de quem espera encontre alento numa ciranda suave, doce. É uma luta contra e a favor, de nós mesmos.
A dor de quem espera uma resposta, uma carta, um amor. Depender de um jogo inventado, brincadeira perigosa, sem escolha.
Sobreviver é pretexto, espere a hora certa e deveras, comece a viver.

quinta-feira, 5 de março de 2009

já era.

sem nome...

Acordo e
Braço cruzado; e a minha boca de lama
Por não te ter pra te agarrar na minha cama
Cê tava todo marrento na noite passada
E o meu suor era a água na boca; então
Se hoje eu te ver eu posso até dizer que eu vou tentar
Mas meus amigos, seus amigos, não vai dá..
Até parece fracasso mas pode crer que não é não, meu bem
É só meu jeito de fingir que eu não me importo com ninguém

domingo, 22 de fevereiro de 2009

o mundo gira e as dores passam

O nosso mundo está pelo fim.
e nós estamos cada segundo mais velhos;
nossas crianças, cada segundo, menos crianças;
mas as nossas dores também se vão a cada segundo;
e em seu lugar, a novidade, os novos sonhos, as esperanças;
e alguns sorrisos, meus e seus, nascem e morrem, durante segundos..
Eu busco em mim mesmo alguma coisa de você, mergulho dentro me mim procurando qualquer marca que possa me confortar, que me faça lembrar você, aquele seu jeito de olhar, de falar, e a cada segundo eu te vejo mais distante de mim.
Tragam o tempo que parte a cada novo momento! Devolvam-me as lembranças roubadas, que a cada segundo me esvaziam e me fazem perder todo sentido.
O mundo gira, e as dores passam. Essa é a minha verdade, na qual tenho me abrigado e se tornará fato.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

- Eu só peço para ver

No fundo, essa é a minha única luta e a razão de todos os meus medos ‘infundados’. As barreiras que existem são as que eu mesmo crio, para manter na forma de sonho os sonhos que não são meus (a forma simples de ser ocupado e nunca completo; no fundo, o medo desse completo ser só mais uma parte). Sonhar é melhor que viver porque nunca me foi possível viver um sonho, e os sonhos são bonitos, ideais; a vida é sempre a vida.
Por que em mim brotou esta chaga, chaga que sangra ou pérola que brilha, dentre tantos, dentre tão diferentes, por que em mim o fardo de lidar com algo que hoje é incógnita parte indomável de mim?.. Por que me tiras, chaga, qualquer sentido ou conhecimento de tudo que tenho? Por que a única certeza, único fundamento, chão é o vazio, é escuridão, é o silêncio?
Não foi simples descobrir-te e hoje eu vivo na desilusão da tragédia, como um cego que cansou de tatear na escuridão do desconhecido e tenta torná-lo sua posse. Que fracassa, e o que sobra do resto não pode ser a saudade, mas a ausência de algo que ele enxerga dos olhos para dentro. E sonha. E desta vez, sonha.
Enquanto chaga, a dor e enquanto pérola, a lágrima. A dor é o sinal que me mantém vivo e se ainda há vida, há busca. Os olhos atentos, pele sensível, o que eu sinto e o que eu penso colidem em ressaca; não se sabe como chegar, onde encontrar e os caminhos são infinitos. Desespero de meus olhos, pele sente mas se mantém calada, e o vazio brota de tudo; com ele a lágrima, aquilo que meu corpo expele. Por mais uma vez, por todas as buscas, em todos os lugares.
E assim foi o retrato em movimento daquilo que vivi de mais bonito entre tudo que vivi. Como todas as coisas, como a vida, a minha ou de qualquer um ou a vida em si... diante do que vivi, do que vi, ouvi, senti, por onde passei, com quem falei, com quem me afinei, desentendi... não importa. Foi como todas as coisas, incompreensíveis, no fundo tristes, mas de uma beleza simples e impressionante, e na inocência de tudo que é puro ou desconhecido.