domingo, 20 de setembro de 2009

Percepções

Por entre todas as velocidades desordenadas que se dão pela fluidez do caos presente nos itinerários das ruas da metrópole, detalhes omitidos são capazes de revelar grandes coisas. Num instante que passa desapercebido nos tão presentes relógios das cidades, e a observância pode lhe trazer as mais íntimas percepções daquilo que é sensível. A solidão no silêncio, a paz na alegria alheia...
Eu observo. E a reflexão é consequência, e para todos. Mesmo na vida de quem luta contra a gravidade dos ponteiros que giram além do que os olhos podem observar, inevitavelmente em nossos carros, enquanto estáticos no trânsito, ainda hoje nos vem à cabeça a pergunta antiga e talvez a mais complexa de se responder: o porquê de nossas existências.
Talvez nunca saibamos, por maiores que sejam os avanços cientificotecnológicos que hão por vir. Talvez isso não importe, deveras. E talvez o tempo nos condene antes de qualquer conclusão. O certo é que devemos sentir cada segundo que temos, e sermos coerentes com o que as entrelinhas da vida sopram. Assim podemos ser felizes, ou que sabe, tristes. De todo modo seremos mais vivos pelo caminho do sentir.
Não estaremos na contramão das rotinas contemporâneas. Devemos, sobretudo, amar nossos objetivos e prosseguir, mais fortes, por eles. Por nós. Fazer valer o sentido do momento. Lembro-me de uma frase de um pequeno príncipe: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. E o que cativas em ti mesmo? Sejamos cônscios com nossos sonhos, e responsáveis de nossas direções.
Mas os momentos de observância se passam, bem como o trânsito tende a fluir, cedo ou tarde. As percepções também se vão, mas cuidemos para que suas marcas fiquem em nós mesmos, para sempre.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

crime

Se toda a propriedade usurpa,
eu te roubo.
Sim, e sigo as regras:
não peço opinião e nem
respeito tua vontade.
Te faço meu, minha posse,
te alimento e te completo.
Te guardo no meu quarto.
Se disseres, por acaso, que
estou contra a lei,
digo que minha lei é natural:
a vontade que tenho é zelo necessário,
pra que não te façam mal.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Diferente

Diferente. Alguém normal chamaria de estranho.
É que estampas de surf não fazem o seu tipo, e quando o melhor a se fazer for esperar, ela tem por costume se apaixonar por pessoas desconhecidas. Às vezes até imagina como seria, vivendo juntos. A vida a dois dura até quando puder lembrar dos traços do rosto, ou até que outra existência seja mais egoísta e acabe fazendo esquecer... é que ela é assim, apegada mesmo: não era difícil a fazer amar.
Enquanto o tempo passa, ela se distrai e, ao longo de fatos que se passam, tão bonitos, que se fosse possível desenhá-los, que se fosse possível codificar a emoção de forma simples... ela guardaria em um caderno de fatos belos. Um pai, e três filhas: ela sorri e chora ao ver a confirmação de que a vida deve seguir, no sorriso da criança, que parece tão mais segura da vida que esta leviana garota, fruto de nossa observância. Ela chora ao ver a felicidade num detalhe que quebra a sincronia dos ponteiros e torna infinito o itinerário de apenas mais que trinta minutos, no ônibus, da casa à escola.
Ela descobre e admite. É diferente, deveras. Por fora, algo que nem sempre demonstra ou faz algum sentido, como se uma casca dura, resultado do mal que lhe fizeram, algum tempo atrás. Mas falar sobre isso também já não faz mais sentido. Por dentro ela descobre toda a delicadeza e sensibilidade dela mesma, afinal, ela sofre mesmo, quando pensa em coisas como o efeito estufa, deficiências físicas, a dor da perda ou da ausência, a falta de água ou mesmo na saudade que fica de sua mãe. Ora, ela não sabe bem o que dizer e prefere não arriscar. Irradia o que tem de precioso através do sorriso que direciona à criança..
Por dentro é a maior pérola, às vezes chaga.
Como sempre quis.

domingo, 6 de setembro de 2009

O Sopro

Porque diante de somente um sopro teu, somente um momento que pra ti é nada além de fazer passar o tempo, que me fazes brilhar os olhos.. Teu sopro, a minha melhor inspiração. Algo que não tem sua forma revelada em linhas de raciocínio ou vias de sentido, que não se limita no tédio das coisas explicáveis.. Nossas linhas tortas, nossos atalhos que nos levam a lugar algum (se ao menos pudéssemos estar em algum lugar juntos!..). Nossos. Cada veia minha torna-se raiz de ti em mim, e o que dá vida às raízes são teus sopros e minhas inspirações, bem sabes que as melhores são vindas de sopros teus. Talvez tu não saibas..

Mas o que procuro mesmo manter em segredo são as consequências de tuas vindas repentinas.. Teus sopros que dentro de mim atentam a todo canto e detalhe, como só quem ama é capaz de dedicar tamanha atenção (EU TE AMO!). Devastam esculturas e fundações de certezas que aos poucos cuidei em mim mesmo. E o que me trazia sentido viver por, torna-se agora confuso. Por que fazes isso? Às vezes sinto que sabes o quanto teus sopros, olhares e palavras manjadas, que conheço a falta de verdade em tudo isso, são suficientes para aumentar minha entropia.

E me deixas. Através de um simples fato, me deixas à flor da pele, são as consequências de tuas raízes entranhadas em mim. E depois que vais, torno-me mais sensível às coisas e pessoas que vejo passar com pressa, deveras, através das janelas que se tornam minhas, enquanto realizam trajetos que não me fazem sentido algum (eu só gostaria de ir aonde estás.).. E tudo fica mais intenso. Meu bem, depois de tua presença, eu sinto que eu estou vivo! Mesmo que através da dor da tua ausência, eu sinto, agora.. Eu noto a amargura das minhas escolhas sem sentido, uma questão de sobrevivência; porque só enquanto tenho teu nome em minha boca é que posso, de fato, falar de vivência. Mas me deixas, e as ruínas que sobram em mim já não me interessam tanto assim..

Devo ainda dizer que eu sinto, como alguém que se devota à fé, que hoje estamos mais próximos, amor. E por isso eu peço, num sussurro, num pensamento, num grito... vem! Agora vem! Permita-nos a troca... Estou disposto, por mais que a tua partida se faça real, em breve.. Se puderes, traga-me a vida que tens, e eu serei feliz mesmo depois, por entre tuas recordações... que serão minhas também.