quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pensar em voz alta I

Eu ando cansado. Quanto mais o tempo passa e menos eu o tenho para exercer a vida, de fato; mais eu tenho percebido que sou uma carcaça que movimenta meus pensamentos, ímpetos e desejos de algo maior. Hoje eu me senti um possível mártir de uma classe. Logo depois eu me senti um nada, diante da beleza torta, da ingenuidade de pensamentos daquele travesti. Me pareceu tão confuso e acreditado de qualquer verdade que o dissessem... Ele morreria por uma causa. Uma cabeça confusa e mil ideias na cabeça. Algumas eu penso que virão a ser ações. E eu me pergunto, por que tanta dor de cabeça, comprimindo tudo que é possível no meu crânio? Algo já me disse desde sempre que o meu grandioso ato tão esperado é nada além de sonho e nada além dele eu admito realizar. Nada. Não, não é nada.

sábado, 23 de abril de 2011

plebeu mal-cheiroso

A gente junto tem cara de desencontro. E engraçado que já passou da época que eu imaginava a gente junto. Mesmo aquela época, a gente junto e havia um abismo entre nós. Vários abismos. Eu nunca tive coragem de pensar em 'nós', a gente junto, pra mim, era 'eu e você'.
Você me disse 'eu fujo de lá e você corre pra lá' e eu só pude achar que isso tinha, digamos, uma força literal; digamos que eu poderia escrever sobre isso com um sorriso sacana no rosto, bem do jeito que eu gosto. Aliás eu adoraria que você deixasse de ser interessante. Porque a tua beleza já me cansou faz tempo (tirando que tuas tatuagens estimulam em mim um fetiche que eu gosto de chamar de obscuro. Naquela época não tinhas - graças a Deus, porque eu iria mais longe, sabe-se lá onde.). Eu já conheci uns trinta e seis caras do teu tipo mais gostosos que você. A beleza em si é previsível e, meu bem, você já perdeu a pose faz tempo.
Mas, sabe? Eu não sei. Eu queria saber. Eu ainda despendo tempo aqui, escrevendo sobre o nosso desencontro. Eu ainda faria esforço pra você dormir lá em casa. Eu voltava 'de lá' mais cedo. Porque o fato de você ser um mistério indecifrável - e que assim seja, meu bem - cria entre nós um abismo. Sempre a um triz ou um abismo de poder conhecer, deveras: conhecer para dominar. A sua beleza é a mesma - tirando suas tatuagens mal feitas - mas você se torna cada dia interessante de outro jeito, do jeito que eu adoraria conhecer. Das suas novas frases e fases, das suas novas músicas e dúvidas, das suas novas drogas e fodas. Sempre novas. Sempre indefinidas. Sempre um 'eterno vir-a-ser'.
Numa lógica simples e impensada, você parece suprir o que eu quero: o meu buraco negro insaciável e o seu sempre-novo jeito de vir-a-ser. Então no mais baixo nível água com açúcar eu me vejo com instinto de sentir o teu cheiro encher as minhas mãos, a boca, de você. Mas fica chato terminar assim, de quatro, depois de tanta formalidade. Acho que cabe eu contar uma história:
No tempo em que eu fora pequeno príncipe, de todo aquele amor gratuito e inexplicável - porém real, nem eu mesmo acreditara naquilo: 'meu amor, nós nos encontramos na hora errada, e eu ainda te espero n'algum outro tempo'. Eu não acreditara, mas fora verdade. A verdade de um tempo atrás. Hoje a verdade é outra e muito menos romântica, como você sabe; mas eu confesso que a-do-ra-ria te ter agora, nesse outro tempo: o meu maior prazer seria te mandar ir embora, depois, sem remorso, sem dor, com o sorriso sacana no rosto.