terça-feira, 11 de maio de 2010

incompleto

saudades... você não sabe o quanto eu tenho sentido! em casa, nos meus itinerários, eu penso você e meu rosto, meu corpo, meu caminhar transbordam a amargura de não poder te ter.
viver tem sido lutar pra sair da tua sombra. você cresceu, ficou gigante, tapou o resto do mundo. eu te dou as costas pra tentar olhar além, mas a tua sombra escureceu tudo o que eu olho, tirou o brilho dos meus sonhos, dos meus olhos.
me ama, ou me deixa de vez. de fato eu fico aqui, paralisado diante da tua presença. diante dos teus abraços de mentira, os de verdade, diante das tuas declarações de saudades.
saudades... não posso dizer o mesmo, é como se uma parte minha fosse feita de ti e então eu te tenho sempre aqui, de alguma forma. eu só queria te ter inteiro. eu só queria te esquecer de vez.
eu não sou mais como antes? eu não mostro mais que te amo? foi você que escolheu desviar o curso do meu amor gratuito que cai no chão e respinga pra todo lado agora.
é uma questão de tempo até que o coração cure e pare de jorrar esse amor torto, incompleto, por ti...
...
..
.

sábado, 1 de maio de 2010

sobre o vento

E quando tu sentires o frio na pele não te assuste!
De onde vem esse vento que me aguça o tatear dos braços e sossega numa dança a minha nuca? Na janela eu vibro em ressonância com as folhas das árvores, inteiro, envolvido por esse vento. Mas de onde vem? Por que não posso vê-lo? É quase cruel ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.
O barulho dos carros, a casa suja, a comida fria, o tempo desperdiçado. O sol, o céu e o vento existindo em suas plenitudes, avivando as cores dos prédios, das árvores, e seus movimentos. Mas o que importava agora era sentir o vento, na janela, como se à espera de algo, enquanto lágrimas e células mortas eram carregadas pelo vento, com os anseios que, ao passar do tempo, diminuem.
Ele ficou na janela por alguns minutos, observando o mundo como uma engrenagem, um formigueiro num aquário. Os pensamentos giravam numa velocidade incontrolável, já não faziam sentido, o mundo tinha se engrandecido e compreender a totalidade era demasiado difícil e amedrontador. Por ser racional demais, buscava definir aquela, a sua situação estranha. Pensou sentir falta. Do homem que não era seu, ou talvez de algo que estava por vir, algo desconhecido. Mas já havia dito: como é difícil ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.!
Ele ficou lá. Ele ficou lá eternamente, um quadro na memória, simples e complexo. Depois, a vida ativou a engrenagem e o mundo voltou a girar.