Choveu aqui. Eu nem percebi, acho
que tudo já parecia meio aguado na minha visão mesmo antes da chuva. Os meus
olhos andam tão vermelhos e apagados, e olha, eu sempre gostei tanto da maneira
como meu olho fala... e agora eles parecem um pouco quietos. Não to gostando
muito de olhar no espelho. Mas choveu, na janela tem um cheirinho bom de grama,
o mato tá tão verde, com várias gotas nas folhas, cheio de vida, eu fiquei com
um pouco de inveja mas me senti contente por ter notado... a gente sabe que quase
ninguém nota essas coisas. Amanhã eu vou tentar, sair de casa. To precisando,
tomar um ar, botar luz nesses olhos. Talvez eu não consiga de primeira, é por
isso que Deus inventou o depois-de-amanhã. Pra eu poder ter uma outra noite de
silêncio e ar fresco no rosto, só eu e sem luz e sem pressa. E amanhã à noite
eu posso dizer que amanhã eu vou tentar de novo...