Você me tirou de casa em um dia bonito
Transformou a minha não-expectativa em algo que eu pude me dedicar
Você me deu uma ocupação e me fez sentir importante, mesmo não sabendo disso tudo
Ou que isso tudo pudesse ser tudo isso pra mim.
Você me fez acreditar na minha beleza e ser um pouco mais confiante
Me mostrou algo que eu pudesse pensar e falar, algo que pudesse me distrair por algum tempo, até a volta às minhas incertezas, medos, meu ócio seguro, meu lar
Sem saber, você me mostrou o céu, me expos ao vento que me torna sensível
E eu senti medo, como não sentia há algum tempo
Me fez ver as ruas que os homens inventaram; eu vi com olhar de estranhamento.
Me fez lembrar. Me lembrou que todos os dias eu poderia estar disposto.
Eu poderia ver tantas pessoas quanto meus olhos alcançassem e todas me seriam novas, todos os dias.
Me fez lembrar a beleza das pessoas, o asco, a desconfiança, o desejo, a má intenção, a mesquinharia, a pressa...
Eu olhava de baixo, um olhar pedinte queria mostrar indiferença. Interação pensada
Eu calculei qualquer gesto, era o medo.
E nessa hora já não tínhamos nenhum elo.
Você me deixou por ali, e o que parecia incompleto por realmente ser, tornou-se tudo o que eu podia saber.
Por um momento eu pude me desprender, mas algum tempo a mais e meus músculos não agüentariam a tensão.
Foi quando eu quis ser uma pedra em toda minha estática, foi quando eu quis ser diferente
Foi quando eu me perguntei se um dia isso acabaria; foi quando o sonho e o devaneio acabaram.
Talvez sem imaginar, você me fez ir pra casa, sozinho, sem motivos pra ter saído
Alargar as minhas asas, mas mantê-las curvadas, no espaço de um pequeno aquário.
E sem outra opção, talvez arrependido, eu volto.
O mundo me distrai, mas o que se foi é marca, não sai.
Você me fez pensar mais uma vez: tenho medo de lá fora, não quero ir.