segunda-feira, 21 de maio de 2012

esta é uma carta de despedida

Escuta. Escuta aqui. Eu preciso falar. Eu to precisando escrever. Tem muita coisa tua que ainda não desceu na minha garganta, ainda não sei digerir, e, de verdade, eu não quero. Eu quero vomitar isso no papel, não é de hoje. Que aí eu aproveito e tiro tudo que ainda tem de teu por dentro de mim. Eu queria começar por ontem. Só consigo pensar em amargo. Eu não quero ser teu amigo! Bota isso no teu cérebro juvenil. Eu realmente não quero ser teu amigo. Eu nunca quis, e chega de fazer o bonzinho, dessa vez eu vou pensar em mim e no que é melhor pra mim. Eu fiquei ali, que nem um idiota, chorando e passando aspirador, que aí eu podia chorar de soluçar, que aí ninguém ia me ouvir. Era igual aqueles filmes espanhóis, mulheres limpando a casa enquanto choram. Na verdade eu nunca vi isso num filme espanhol, mas era bonito demais, real demais, como num filme, e se fosse num filme, seria um espanhol.
Daí eu decidi sair de casa. Foda-se você, foda-se o que fosse acontecer, foda-se o tamanho da dor que eu fosse enfrentar. Que fosse de uma vez, e embora eu saiba e acredite veementemente naquela música que diz que tristeza não tem fim, pelo menos, desse dia em diante eu ia poder dizer: não chegou nem perto do amargo no meu peito naquela noite. Mas, acredite, o que eu senti em te ver, em ser ignorado, em te ver com outro homem, em ver a tua cara aparentemente dócil olhando pra mim e desviando o olhar, e pior, em ver esse teu rosto sem culpa diante tudo isso... o que eu senti foi bem menos do que eu pensei, não foi nem físico, provavelmente pela quantidade de blue lagoon que eu já tinha tomado. Nenhum calafrio, nenhum tremor, nada. Por essas e outras que meu lado racional decidiu nem te incluir na lista de pessoas que eu já amei.
Então é melhor baixar a bola, porque essa falsa modéstia aí não convence mais, nem essa autopiedade. Sei lá, só seria tão mais bonito se tu fosse sincero, se tu tivesse sido sincero, desde o começo. Eu não teria pensado nada disso de ti, ou teria omitido a maior parte por apreciar tuas atitudes sinceras. Talvez eu sofresse bem mais assim, mas talvez valesse mais a pena, talvez fosse menos vergonhoso pra ambas as partes, talvez a história que restasse no final fosse mais bonita e eu tivesse mais vontade de contar, depois de tudo.
Sei lá, sabe, para de aparecer na minha lista de contatos do chat no facebook. Dá um jeito, some. Volta no tempo e dessa vez quem sabe eu fosse menos imbecil por ter me permitido pensar que isso podia ser mais que uma cilada. Vaza, e me deixa com o meu velho vazio de sempre, que não se contradiz porque não diz nada, nunca.
Eu detesto ser agressivo, me sinto mal, mesmo. Detesto ficar de climão com alguém, e pensando nisso como uma carta de despedida... eu preciso te agradecer. Certo e errado é só uma questão de ponto de vista, e o que eu escrevo é sempre a vista de um ponto. De onde eu to. Talvez num todo eu esteja fazendo tempestade em copo d’água. Se visto de longe, mesmo, os humanos são só formiguinhas egocêntricas, e eu gosto de pensar assim pra me por no devido lugar.
Obrigado pelos dias em que eu não passei em branco, seja por estar te ouvindo ou por te contar minhas coisas, sejam histórias de vida ou o quanto eu tive sono naquele dia. Obrigado por me fazer pensar mais, por me fazer querer ser mais interessante, por me fazer querer estar bonito, por me deixar mais sensível, por me fazer entender as letras de música que antes não faziam sentido, por ter me dado um motivo pra viver um pouco mais feliz. Muito obrigado, mesmo que nada disso tenha sido consciente. Eu agradeço demais pelos textos que tu me inspirou a escrever, fazia tempo que não escrevia com tanta frequência. De fato são eles os frutos entre eu e tu. Valeu pela dica de filme que eu achei ruim, mas me apropriei porque fez parte da minha vida. E o mesmo contigo: por esse tempo, muito pequeno, tu fez parte da minha vida e então eu já não sou mais como antes. Nem tu. E isso é invariável. Virou fato.
Agora eu pego os apelidos que eu te dei, as piadinhas internas – maioria sem graça, as pipocas, a mocinha, as baratas, sei lá que mais, e boto numa caixinha, que por enquanto fica ali do lado da minha cama. Aos poucos, na pressa dos dias, eu vou jogando as roupas usadas por cima; por comodidade guardo uma ou outra coisa em cima, e isso vai ficando cada vez mais ao fundo. Mais uma vez, eu dando tempo ao tempo.
Obs.: Só que dessa vez eu não vou te mandar a carta, melhor deixar na caixa, junto com o resto das coisas.
Viva bem, adeus.

sábado, 5 de maio de 2012

Ponto Final

Acho que é uma das primeiras vezes que eu falo de ti com um sorriso no rosto. Claro, desde o tempo que a gente se afastou. Fica tranquilo, eu omiti tudo de ruim, só falei as coisas que são boas de se falar. A tormenta e as angústias... não importa. A gente só lembra do que quer, hoje eu quis pegar leve comigo. Lembrar já é um pouquinho 'contar uma mentira'. Pra si mesmo. Sem falar nada. E hoje eu fiz questão de mentir, mentir gostoso, pensando só no que foi verdadeiramente bonito na gente. A GENTE. Nunca tinha 'a gente'. Eu sempre cuidei de ti. Eu sempre cuido dos caras que eu gosto, de alguma maneira eu suporto, de alguma maneira a minha intensidade fica forte como concreto, e eu suporto, eu sou a barragem de um rio em declínio. Porque os caras que eu gosto são geralmente ímpeto sem controle, e eu suporto. Eu vejo nos olhos, eu escolho alguém que vai me deixar cansado, que vai me fazer ter que usar a força que eu tenho dentro de mim. Eu suporto. 
Daí eu percebi que pela primeira vez eu senti saudade de ti. Não era do teu corpo, era de ti. Do teu jeito, o cheiro da tua casa sempre desarrumada, fechada por causa do frio, cheiro de lugar fechado, cheiro do teu quarto com sono, cheiro do teu sono. Eu tentei pensar em alguma coisa tua que ainda tivesse comigo. Fiquei de cara, não tem nada que fosse teu, que tivesse tocado tua mão, teu rosto, teu cabelo, nesse meu quarto pequeno. Aquela coberta manchada com a tua porra era uma lembrança, aquela coberta eu botei fora. Era um jeito de lembrar de ti, mas eu botei fora. Eu olhava a mancha, lembrava demais. A empregada sempre achou que era pasta de dente. Ela entrava no meu quarto e eu olhava e ria, ela perguntava o porquê e eu não poderia dizer -a mancha que você tanto reclamou é porra. Porra. Porra, não tem nada teu aqui.
Tem uns fatos na minha vida, que se eu não conto pra alguém, é como se eles não tivessem existido. Por não contar eu vou esquecendo, só lembro do que eu quero. O meu passado parece muito mais bonito assim. A carona com o desconhecido, o meu amor louco com por um drogado, meus dias penosos nos postos de saúde, meu dia de party monster em Joinville, as caminhadas de três horas pela cidade de madrugada. Algumas coisas são verdades, outras não, mas de tanto eu contar e visualizar as imagens, fazem mais parte de mim do que uns fatos tediosos. Taí, deve ser por isso que tu parece tão distante de mim... Algumas mentiras são mais presentes na minha vida do que foi a nossa verdade.
Eu abri meu armário, o armário que tu nunca viu, com a fissura daquele tempo. Aliás, será que tu já deitou nessa cama? Talvez hoje eu durma menos vazio, talvez eu durma melhor, abraçando a lembrança da tua anatomia na minha cama. Peguei um shorts preto, meu, que tu costumava usar. Aposto que tu não ia reconhecer. Fiquei segurando. Ele ficava muito mais preenchido em ti. As minhas coisas ficavam muito mais preenchidas em ti. Eu também.