terça-feira, 7 de dezembro de 2010

guarda-chuva

Nessas horas eu me lembro de morrer. Boto as luvas de borracha e sem apego como quem examina um cadáver que nunca antes teve nome. Vasculhar o que ainda tem de mim, sem perfeitas condições e não mencionando os órgãos que nesse ano me foram amputados.

Vamos nos abraçar e ser felizes. Você errou a concordância. O desespero de um futuro próximo sem nada nada ninguém nada e tudo vazio e incerto me faz te segurar com força e muitas vezes no dia. Desculpa eu preciso dizer que isso não é afeto. Eu nunca disse que eu não gosto de você. Eu não tocaria no corpo dele do jeito que toco no seu corpo. O nojo me daria ânsias. De vômito. Antes um cadáver. Antes o cadáver do meu amor. Eu me agarro em ti às vezes com mais força que carinho. Eu quero evitar voltar pro escuro e sozinho de todos os dias. A dor na cama esperando pelo sono, até que o sono ainda seja maior que a dor. A morte de todos os dias. O rim que torce e me curva a espinha. O rim que sangra pelo mijo pra me dizer o quanto eu estou morto e não tenho mais chances e as coisas só devem piorar. Não posso mais pensar nisso. Apenas me desculpe.

- O que você construiu esse ano?

- Sabe, esse ano eu tenho que admitir que muitas coisas mudaram. Estou surpreso com meu amadurecimento em demasia, você entende? Ah doutor, eu aprendi muitas coisas, sem dúvidas eu construí muitas coisas. Admito que continuo sendo o mesmo ser amputado, uma cabeça asquerosa, que se movimenta e sangra. Mas esse ano eu adquiri algo quê... algo que me acompanha até hoje. É certo que tudo que como a situação crítica dos meus órgãos, enquanto eu o tiver eu o vejo cada vez mais podre. Mas com os outros restava a perfeição, a imagem que eu tive na minha cabeça, quando os perdia. Acho que prefiro vê-los podres ao meu lado do que perfeitos e longe. Tocá-los com minhas doenças os apodrece. Tudo bem contanto que continuem meus. Doutor eu só queria dizer que durante todo esse ano eu usei apenas um guarda-chuva.

Eu to deixando de te amar. É uma pena ser aos poucos. Você agora tem sido um corpo amputado, que me excita mais que qualquer outra coisa. Você é ridículo e seu amor é ninguém. Eu sinto nojo de me excitar te olhando. Suas camisetas têm as piores frases, você passou a se vestir mal. Você bebe e fica ridículo. Eu odeio sentir que meu amor acaba morto na lata de lixo e com cheiro forte. Eu odeio ser fraco. Eu odeio saber que enquanto eu te amava eu não tinha tanto tesão por você. O meu amor morre antes de um minuto, todos os dias, mais de uma vez por dia. Você não me merece e eu não mereço nada além de mim mesmo. Nada além de morrer.

- Doutor: esse ano eu aprendi como enlouquecer todas as noites e me manter são por conveniência durante os dias. Me sinto bem assim.

domingo, 28 de novembro de 2010

ele precisa viver

Há mais de uma hora acordado. A cama e as coisas continuam da mesma forma, como se ainda dormisse(m). Ele continua da mesma forma, como se nunca tivesse dormido. Porém nessas ocasiões é quando costuma sonhar mais que qualquer um. Andando em linhas retas e treinando diálogos que não vão acontecer, ao fundo o som do tempo que passa nos motores dos carros. Seu prazer dura pouco, e por tantas repetições seria chamado de doente caso não estivesse sozinho. Ele acredita que ser feliz é como sentir aqueles dois segundos de prazer, em tempo ilimitado. Engano. As cortinas e janelas continuam fechadas. Ele está preso nele mesmo e ele mesmo é a junção de fragmentos dos outros. Então ele está sozinho sem querer. Mantém os olhos abertos porque o sol invade impiedoso qualquer fresta. E ele foi ensinado que quando o sol está, seus olhos devem estar atentos, mas não muito. O sol invade impiedoso qualquer fresta: isso o deixa de olhos úmidos, ele se torna um pouco menos morto. Ele sonha um dia ser uma fresta invadida pelo sol. Vai até a janela às vezes, tomando cuidado pra nunca ser visto. Empurra a cortina pra conseguir ver mais de ‘lá de fora’. Olha com brilho nos olhos, é o que o sol causa. Ele se torna um pouco menos morto. Não entendo como ele consegue admirar as cores, as imagens de ‘lá de fora’. Mas ele olha como se admirasse um quadro impenetrável, ao qual ele não está contido. No fundo sabe que a arte impenetrável é ele mesmo e o mundo é só aquilo tudo que nossos olhos nem reparam. Me pergunto como conseguiu passar tantos anos em si mesmo a ponto de acreditar que o contrário poderia ser verdade. Sabe que quando o ‘barulho do tempo nos motores dos carros’ passar, ou ao menos diminuir, vai estar perto do fim. Ele vai esquecer as sutilezas e vai ser uma pessoa normal, assim que destrancar a porta e abrir o trinco enferrujado.

sábado, 27 de novembro de 2010

crônico

Sabe eu passei algum tempo no espelho me perguntando coisas na cabeça. Talvez eu pensasse que o espelho pudesse me responder. Eu saí de lá e tentei esquecer mas eu não conseguia. Eu não conseguia porque eu continuei olhando pra mim. Parece besteira mas eu não consigo mentir. Eu acredito que esse seja o meu problema. O que eu não consigo acreditar é como se pode arranjar problema sendo sincero consigo e com os outros. Porque a verdade só deveria trazer coisas boas. Daí eu me lembro com um riso sem saída que ninguém nunca disse que as coisas naturais deveriam ter lógica.

Eu queria estar em casa. Onde quer que seja minha casa. Eu queria me desarmar completamente pelo menos uma vez eu queria me ajoelhar e deitar a cabeça no colo da figura materna. E chorar. Eu sinto falta da minha mãe. Mãe, me diz? Mãe, me explica?

- Explicar o quê, meu filho?

- Eu pedi primeiro, mãe. Eu não sei, mãe, eu não entendo. Eu não sei de tanta coisa que eu não sei nem do que é que eu não entendo. Por que isso por que tudo? Por que que eu não entendo e por que que eu preciso entender? A maior certeza é a de não entender e a pior certeza é a necessidade tentar. Eu me pareço um babaca que de tanto pensar esqueceu.

- Mas cala a boca agora. Amar seja qual for a forma de amor é sofrer e sentir dor. Vive os teus dias e esquece. Mas tu é burro, então esquece e vive teus dias, cheio de pergunta e sofrendo até a morte.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

a_ar

Poder amar é libertador. Ama-se não ser completo. A cima de tudo, ama-se a capacidade impressionante de poder amar. Não se amam pessoas. Tu não te amas. Não se ama o sexo, por ser deveras efêmero. Ama-se sentir-se bem ao amar. Ama-se a ânsia pela posse. Ama-se a falta. Ama-se antes e depois. Ama-se o indescritível azul-claro basto contido dentro do peito. Ama-se o respirar que é gozo e o coração aceleradamente ritmado. Ama-se nas mãos. Ama-se no cheiro e dentro da boca, na saliva que não é dita. Ama-se a beleza, mas ama-se ainda mais o que é feio. Ama-se engrandecer ao amar: tornar-se belo, botões de flores, parir pedras e lapidá-las diamantes. Ama-se a perda. Ama-se a perda, porque se ama o vazio. Ama-se estar preso, mas poder amar é libertador. ... .

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

amor:

Ele vai chegar. Ele vai chegar quando eu não estiver esperando. Quando eu decidir que eu vou parar de pensar, que eu vou limpar a casa, ouvir música alta, ou assistir a um filme sozinho ou encontrar algum amigo que me faça bem ou sair andando só pra ouvir música . Aí ele vai chegar. Vai ser aí que o interfone vai gritar com aquela urgência de um toque comprido e invasivo, que rompe com a individualidade e a inércia de uma vida inteiramente minha, e isso é proteção. Eu sempre fico insuportavelmente esperançoso e docemente amedrontado quando toca o interfone. Alguém quer mudar o curso das coisas que eu já planejei, alguém quer me invadir, de certo modo. O interfone aqui grita com um desespero insuportável.
É assim que ele vai fazer. E quando eu souber que é ele eu já sei o que eu vou pensar. ‘Que hora ruim, logo agora. Agora eu não quero, agora eu não posso, agora não vai dar. Agora eu to bem aqui.’ Mas fica chato dizer assim, né. Daí eu vou descer pra buscá-lo ali embaixo. Eu vou recebê-lo bem, mesmo não querendo a presença dele naquele momento. A droga é que em cinco minutos ou menos, até, eu já vou tá acostumado com ele, vou parar tudo que eu tinha planejado pra ficar fazendo sala pra ele, assim. Eu vou arrumar um espaço aqui em casa só pra ele, ele vai tirar as coisas do lugar de um jeito que me irrita, mas a presença dele e a bagunça dele preenchem isso aqui. Por que ele sempre tira as coisas do lugar? Me irrita, mas me diverte por um tempo, também.
Algum tempo depois e eu vou oferecer tudo o que eu tenho aqui em casa pra ele, tudo que eu puder pra fazer bem, pra mostrar o quanto eu posso fazer bem pra ele. Talvez aí seja o erro, talvez eu o assuste assim. Ou é outra coisa, também. Porque eu tenho uma intensidade insaciável, gigantesca, que me assusta, inclusive. Ele vem passar uma hora e eu tranco a porta esperando que ele fique a vida toda comigo. Ou é outra coisa também. Porque oferecendo tudo o que eu tenho, ‘tudo’ pode parecer tão banal... E a minha casa vai cansá-lo logo se eu não guardo minhas surpresas. É que eu não sei jogar desse jeito, eu só sei respeitar a minha intensidade. Problema meu, né.
E vai ser isso, basicamente. Ele vai chegar. Eu não vou querer que ele entre, mas eu vou deixar ele entrar. Ele vai tirar as coisas do lugar, isso vai me irritar e eu vou rir por um tempo. Ele vem pra passar uma hora, eu espero que ele fique a vida toda e em dez minutos ele acaba indo embora. Eu fico sem saber ao certo o porquê. Ele vai tirar as coisas do lugar, eu vou me irritar, rir... mas elas vão continuar fora do lugar depois que ele for embora. Eu vou continuar irritado, e as coisas vão ser só a presença da ausência dele, aqui. Eu sei que vai demorar algum tempo até eu conseguir arrumar tudo de novo, até eu lembrar de fazer o que eu tinha que fazer antes dele chegar. Pretexto. Parece pouco, afinal é só botar umas cadeiras no lugar, arrumar o sofá, lavar o seu copo. Difícil é esquecer o teu nome.
Ele vem pra passar uma hora, eu espero que ele fique a vida toda, em dez minutos ele acaba indo embora e eu fico esperando. Esperando o quê? Esperando. Esperando sem querer que ele volte, até o dia que ele voltar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

chá amargo

Fiz um chá amargo pra tomar. Que é pra ver se eu largo do exagero. Engraçado que até nisso: já cheguei a comer açúcar de colher por não ter doce em casa; nunca poupei o sal na hora de cozinhar. Engraçado que até nisso: quanto mais se usa, mais se fode. Diabetes, Hipertensão, e todas aquelas doenças. Acho que deus queria dizer 'intensidade mata mais cedo'. O chá desceu amargo e sem a menor graça, quente, que é pra controlar a pressa, a pressa que os meus olhos se arregalam pra engolir o mundo inteiro. Mas agora é hora de fechar os olhos, fecha os olhos, vai Marco, fica quietinho, ali na cama, te engole, te toca. De novo é hora de poupar a tua intensidade, é hora do chá amargo e quente, devagar e ruim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

olha só

Você é tão triste, ou pelo menos é o que parece ser, e eu , eu não gostaria de dizer isso, mas eu preciso tanto cuidar de alguém... Sabe, já não se trata de amar. Eu vejo a diferença nas tuas fotos, e sabe, você entristeceu nas últimas e isso poderia me preocupar se você quisesse. Eu te faria carinhos e com o tempo, eu iria aprender a amar o comprimento dos teus cílios e o tamanho dos teus olhos, eu me conheço mas não me entendo, sabe, eu ainda não entendo a minha esperança persistente na vida, nos homens, mesmo. Mas antes eu só preciso de um teu sinal, é simples, toma um rosto e me olha, faz dos teus olhos um farol que me permita sair do escuro, eu posso garantir que nem tudo que fica oculto no escuro é de todo ruim, deus, eu ficaria a noite toda acariciando teu rosto, eu tentaria de novo o que antes não deu certo, e se a gente quisesse, eu ia tatear e tatuar a tua face nos meus dedos, na minha mente.


Desculpa, é que eu realmente, eu realmente... sim, e antes já me chamavam de obsessivo, mas não acho que seja um erro respeitar a intensidade do que se sente! Sabe que, às vezes, eu acho que isso tudo é egoísmo... já reparou quantas vezes eu disse eu, pra você? Não entendo mas acho que é egoísmo querer alguém somente pra poder se doar, ai isso eu não entendo bem e não quero mais falar. Mas meu deus, pelo menos você me ouviu inteiro agora, eu continuo aqui e nada em mim é grandioso, eu acho que to te esperando, então, toma um rosto e vem me olhar, a gente até poderia se abraçar e tudo mais, eu vou ficar por aqui imaginando e sorrindo. Hei, eu to te esperando tá?


Preciso tanto cuidar de alguém, mas nunca entendi a minha escolha de me deixar de lado.

sábado, 7 de agosto de 2010

Essas agonias e incômodos são tão comuns quanto essas necessidades inexplicáveis e nossa sede por compreensão... isso é se estranhar, e se estranhar é sinal de mudança, de crescimento. Estamos assim, cada vez mais próximos da plenitude, e mais somos capazes de ver o quanto a plenitude é incomensurável e cada vez mais incomensurável. Estamos periodicamente entre a grandeza e pequenitude. Mas por quê? Eu não sei. Meu querido, não há lógica que seja exata.
__
pra você, emudeço na mais sincera demonstração afetiva que não se diz.

domingo, 11 de julho de 2010

__________I – Tudo conspirava pra que ele só fosse embora ao momento exato em que foi, não no momento que havia planejado. O destino o fez adiar – duas vezes – sua partida. O sono e a solidão – com quem ele sempre pode contar – o abraçavam enquanto o tempo corria num momento escuro em que não existia “lá fora” e essa foi uma das raras vezes em que não se sentiu de todo só, desejando sua solidão. Mas foi chegado o momento exato e ele partiu. O amargo saltava de seus olhos, acinzentando o dia. A música que ouvia – o único som – matinha seus olhos sempre úmidos, com a umidade de uma pessoa triste. A umidade dos olhos almejava ser o próprio mar, que era admirado da janela, num retrato vivo, numa regressão de tempo e espaço e fatos. O mar sem sol e suas ondulações, essa era a analogia da plenitude que tanto se sonha, mas sabe-se também que é inalcançável. O céu coberto de nuvens era a analogia de sua própria vida. Como sempre gostou de fazer analogias! O momento certo, em que o seu lhe soprava que mesmo com as nuvens a claridade chegava à superfície. E antes que pudesse compreender, depois da curva, no céu, as nuvens cortadas revelam o céu numa escala de azuis, a analogia acalmou o coração e ele estava estável. Como numa cena final de um filme, já era hora de acabar, sem pensar no depois, era hora do fim e isso era tudo. Ele foi embora, porque não podia ficar.

domingo, 4 de julho de 2010

o cheiro na ponta dos dedos

Hoje, pela manhã, eu percebi como eu tô livre pra me permitir ver em alguém o que eu vi - ou ainda vejo, já não tenho tanta certeza - com aquele de outrora.
Eu lembro do cheiro do ar abafado que não circulava, ele ainda tá na ponta dos meus dedos, enquanto eu segurava com precisão os lençóis e as fronhas, eventualmente encostando nos dedos dele e, eu lembro, eu me permiti explosões químicas resultantes do toque das nossas peles. Ele já não é mais o mesmo ele de outrora, ele já não é mais ninguém ainda. JÁ não é mais ninguém AINDA, o anacronismo me remete a um estado de conclusão de ideia. Minha respiração fica mais forte encostada nos meus dedos, eu não quero esquecer do quanto eu tô livre, eu quero cheirar os meus dedos e lembrar de hoje.
Eu permiti deixar meus olhos abertos, eu permiti guardar a forma do teu rosto, do teu corpo na minha mente. Eu permiti saber dos teus cílios e das tuas sobrancelhas, como eu amo teus cílios e tuas sobrancelhas!, seja lá quem tu fores. Eu permiti ouvir a tua respiração forte e cansada do meu lado, eu permiti sincronizar nossas respirações e dormir com o corpo milimetricamente calculado, no meio do caminho, nem entrega nem resistência, mas sentindo o calor de um corpo que pulsou vida, que jorrou vida em mim e então parece que eu voltei à realidade.
Nem feliz, nem triste, não amo ele de outrora e nem ele que ainda não existe. Não agora. De fato e só agora eu descobri que eu amo é a minha capacidade de amar, eu amo o filtro pelo qual eu sinto as coisas, com uma capacidade imensa, amo poder ativar o macro e medir o tamanho dos teus cílios, ah, teus cílios. Com uma capacidade imensa pro bem, e pra autodestruição, ainda não entendo como, mas eu amo isso tudo.
Que importa fazer sentido, se a vida em si não se explica?

sábado, 26 de junho de 2010

nós

Eu não entendo a gente. Às vezes eu não me entendo. Mas sobretudo quem eu mais gostaria de conseguir entender é você. Entender por que dentro das tuas falas existem tantos “ai sei lá.”, tantos “ai, deixa.”, tantos “ai, não sei.”. Entende o que isso significa? Eu queria que meus dedos que te alisam funcionassem como um bisturi, te abrindo e te deixando exposto pra mim e então eu ia entender o que essas tuas palavras manjadas querem esconder. Eu queria te abraçar e parar ou pelo menos saber o porquê das tuas movimentações que entregam o teu incômodo, é bonitinho e pode ser só uma coisa infantil, mas o que eu quero agora é te entender inteiro. Eu ainda vou entender os teus bloqueios e por que ages tão racionalmente. Não pra que eu mude a tua história e te faça correr pra mim, ou não só por isso, mas principalmente pra que tu consigas ser ainda melhor. Ai eu acho que não deveria fazer isso, eu vou te amar mais ainda, vai ser insustentável.
Talvez eu prefira continuar entendendo nada. Pra que entender se ocasionalmente eu posso ultrapassar a realidade, desregular o tempo, alterar o espaço ao teu lado? Tantas horas e ainda foi tão pouco... é o que a nossa intensidade nos permite. Nossa, como é que eu explico a nossa intensidade?... Eu só posso dizer que a nossa relação é acima do comum, depois de tudo, de todos os nossos ‘tudos’, eu garanto que isso é nosso. Isso é nosso, só nosso.
Um parágrafo inútil, dizer que talvez a solução seja não entender, e tentar explicar o que eu não entendo. Acima do compreensível. Acima das tortuosidades humanas. Apenas acima. Essa é a força da nossa história, essa é a nossa história. E num outro dia quem sabe nos reconhecemos e podemos dar vida a essa nossa história, o nosso ciclo de construção e destruição, o meu amor e ódio.

terça-feira, 22 de junho de 2010

olhar

Por que é tão forte quando teu olhar olha no meu? Será que só eu sinto a força dessa intensidade? Será que só eu explodo completamente por dentro, e toda a minha vida, tudo que eu já tive, toda minha memória, minhas qualidades e minha história, vai tudo pra esse buraco negro que me toma inteiro, tentando conter a minha vontade de correr e te abraçar e nunca mais sair do teu lado! Será que só o meu mundo para completamente? Só na minha cabeça os corrimãos derretem e as escadas me levam pra lugar nenhum, o chão fica macio? Eu queria viver eternamente olhando nos teus olhos, pra ver se assim eu conseguiria entender o que se passa por dentro de ti. O espelho da tua alma, dizem né.
Será que de nós dois, só eu sinto falta de ter os teus olhos me olhando? Deus, não pode ser só de uma parte que essa ligação grandiosa depende e necessita! Eu não poderia construir isso tudo, mesmo o que eu sinto, sozinho! Se a gente se olha eu digo que te amo, eu vejo o mesmo nos teus olhos! Por que esse, o mais verdadeiro dos elos, não é lei pra nós?
É tudo isso que grita na minha cabeça, iluminado pelas luzes amarelas de um poste e esquecido pela penumbra entre um e outro. Eu volto pra casa sozinho, eu vejo tudo mas com um olhar vazio e úmido que mesmo sem poder, que mesmo sem querer de fato vive a procurar teus olhos em qualquer vão frio que são os lugares onde tu não estás.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Um passarinho

Esses dias meu pai chegou aqui em casa e apertou a campainha. Eu sabia que ele viria, mas ainda assim fui surpreendido. Como quando eu era criança, quando minha mãe chegava em casa e eu ainda não tinha lavado a louça – apesar da bronca, todos os dias, a louça ficava à espera da campainha. Mas voltando àquele dia, como nos dias anteriores, algo tinha mudado dentro de mim. A minha sensação de tristeza agora tinha se tornado uma amargura, a casca da ferida, aparentemente a cura, mas a dor ainda pulsa por dentro, sem sangue e sem choro. Esse era eu, correndo pra atender a campainha.

Abri a porta e meu pai falava frases que justificavam o fato de estar com uma gaiola na mão e um sorriso besta no rosto, “a casa de não sei quem pegou fogo e ele iria abandonar esse passarinho” e coisas como “agora tu tens um amigo pra cuidar”, aquelas frases que meu pai sempre disse e que eu nunca gostei, sequer acreditava no teor ou dava importância, preferia ignorar mesmo.

Era surreal e ao mesmo tempo muito rápido pra mim, eu não entendia e algumas vezes eu perguntei “por que não soltá-lo?”. A essas horas eu indagava olhando pra gaiola, em cima do balcão. Não quis que ele ficasse pendurado na parede, assim parecia mais preso ainda. Com o tempo, e com alguma dificuldade, eu consegui compreender que ele sempre esteve preso. Hoje, ele não seria capaz de viver a imensidão e a força da realidade. Talvez nem eu seja. Talvez por isso, e por compreender agora tal fato, nos encarávamos, eu e o pássaro. O tempo, que tinha antes desacelerado, agora era uma pausa.

Aqueles olhos inexpressivos, de alguma forma me fitavam até piscar, sem dizer nada que fosse direto, mas óbvio, ele é um passarinho e qualquer coisa que eu pudesse interpretar seria incoerente. Ou não. Eu olhava pra ele e tudo que eu podia sentir era tristeza. Ele pouco se movia, eu então, estático. Um momento de eternidade, enquanto meu pai fazia ou falava algumas coisas que eu não me lembro. E naquela troca, no mínimo uma troca de olhares eu me doava além do compreensível, todo o meu pesar expelia lágrimas, que meu pai nem percebeu, em seu ritmo habitual. Estranheza. Eu e um pássaro, tão distantes e ao mesmo tempo, num fluxo e numa entrega pura e sensível. Mas que besteira.

Isso foi forte demais pra mim, e algum tempo eu fiquei sem pensar. Alguns dias, e eu preferia ignorar aquela presença. No fundo, é medo, do que eu ainda não tive coragem de tornar fluxo de consciência. Até agora não tive. Como é triste a existência que está tão distante da plenitude. Que jamais pode tê-la. Que no máximo ouve e vê o que tem depois da janela como um quadro inexplicável. Conhece mas não pode fazer parte. O pássaro? Também ele, mas eu me referia a mim agora.

Ai, hoje eu ouvi que a vida não é justa. Eu disse: e quem foi que falou que era pra ser? A falta de sentido da totalidade me assusta. A grandeza da totalidade me assusta. Prefiro calar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

incompleto

saudades... você não sabe o quanto eu tenho sentido! em casa, nos meus itinerários, eu penso você e meu rosto, meu corpo, meu caminhar transbordam a amargura de não poder te ter.
viver tem sido lutar pra sair da tua sombra. você cresceu, ficou gigante, tapou o resto do mundo. eu te dou as costas pra tentar olhar além, mas a tua sombra escureceu tudo o que eu olho, tirou o brilho dos meus sonhos, dos meus olhos.
me ama, ou me deixa de vez. de fato eu fico aqui, paralisado diante da tua presença. diante dos teus abraços de mentira, os de verdade, diante das tuas declarações de saudades.
saudades... não posso dizer o mesmo, é como se uma parte minha fosse feita de ti e então eu te tenho sempre aqui, de alguma forma. eu só queria te ter inteiro. eu só queria te esquecer de vez.
eu não sou mais como antes? eu não mostro mais que te amo? foi você que escolheu desviar o curso do meu amor gratuito que cai no chão e respinga pra todo lado agora.
é uma questão de tempo até que o coração cure e pare de jorrar esse amor torto, incompleto, por ti...
...
..
.

sábado, 1 de maio de 2010

sobre o vento

E quando tu sentires o frio na pele não te assuste!
De onde vem esse vento que me aguça o tatear dos braços e sossega numa dança a minha nuca? Na janela eu vibro em ressonância com as folhas das árvores, inteiro, envolvido por esse vento. Mas de onde vem? Por que não posso vê-lo? É quase cruel ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.
O barulho dos carros, a casa suja, a comida fria, o tempo desperdiçado. O sol, o céu e o vento existindo em suas plenitudes, avivando as cores dos prédios, das árvores, e seus movimentos. Mas o que importava agora era sentir o vento, na janela, como se à espera de algo, enquanto lágrimas e células mortas eram carregadas pelo vento, com os anseios que, ao passar do tempo, diminuem.
Ele ficou na janela por alguns minutos, observando o mundo como uma engrenagem, um formigueiro num aquário. Os pensamentos giravam numa velocidade incontrolável, já não faziam sentido, o mundo tinha se engrandecido e compreender a totalidade era demasiado difícil e amedrontador. Por ser racional demais, buscava definir aquela, a sua situação estranha. Pensou sentir falta. Do homem que não era seu, ou talvez de algo que estava por vir, algo desconhecido. Mas já havia dito: como é difícil ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.!
Ele ficou lá. Ele ficou lá eternamente, um quadro na memória, simples e complexo. Depois, a vida ativou a engrenagem e o mundo voltou a girar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

aprendi

Olha: depois de três anos convivendo num mesmo corpo, o meu, que era habitado simultaneamente por um sentimento dominador e obsessivo... acho que por mais que os erros tenham se repetido um pouco ainda hoje, eu ainda posso falar que aprendi alguma coisa. Durante três anos eu quis renegar, eu quis me entregar, eu quis morrer, e no fim das contas, quando o sábado terminava e tudo aquilo acontecia de novo, quando eu não fazia a menor ideia de onde você poderia estar, quando eu ouvia em gritos todas as possibilidades de maus acontecimentos e não conseguia dormir... eu aprendi. Eu aprendi, acima de tudo que qualquer situação é aceitável. Mesmo no escuro, os nossos olhos podem se adaptar, nossas mãos podem tatear... é uma questão de tempo, até que o vulcão vire pedra, uma parte, uma marca, uma cicatriz. Hoje é isso, você foi a minha maior cicatriz, o motivo de uns textos.
Hoje eu sei que o sentimento dentro de mim é outro, eu sou outro também. A maneira que ele me acorda, num sussurro magoado, não é o grito assustador de outrora. Percebi que a minha sensibilidade continua bonita quando eu amo, e percebi quando eu quis correr atrás da lua, brilhante, gorda! Mas às vezes dói, e eu não sei se vale a pena passar sem amor, ou amar sem resposta. Mas hoje isso não é uma escolha.
Eu te amo, mas eu faço meus dias passarem. Eu dou vida aos outros na minha vida, eu sorrio com o sorriso dos meus. Eu acho que eu to em sintonia, talvez. Hoje eu aprendi a te amar, por te amar. Hoje eu aprendi a te ver, só com um olhar protetor, pra que nada te faça mal. E quando eu te olhar, não repreenda; eu só to te protegendo com o meu olhar bobo, de quem ama. Não dói tanto saber que tu não me amas, eu aprendi a conviver com isso, durante três anos... Hoje o mundo é maior e enquanto eu te amo o tempo passa, e a mudança vem com o vento que sopra frio, hoje, na janela.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

flor

Hoje eu acordei com saudade do que eu não pude ter por inteiro. Os objetos mal iluminados de minha casa completam o espaço com suas sombras cinza. O dia hoje é cinza. Cinza é o resto sem utilidade do que um dia foi vida, morbidez. Hoje, eu queimo mais uma pétala da nossa flor: a flor que é bonita por exalar vida, que não é delicada nem tampouco bela por ser bela. A flor que, concordemos, não nos convém.
Ontem, enquanto esperei pelo meu sono, não pude conter a fluidez dos meus pensamentos rápidos, que fogem do controle. Nos meus olhos amargos eu senti ou supus os sentimentos. Imaginei suas falas, eu pude ver suas ações e repetir suas frases. Pude nos imaginar juntos e lembrar nossos dias sinceros. Pude imaginar você com outro, morrendo de amores, tentando afogar nossa flor. Me sinto como num pecado quando imagino você e ele. Eu sinto prazer quando penso, e eu me culpo mais. Será que eu gosto mesmo da dor? E eu despertei desse tormento por um momento de vida. Às vezes dormia.
Você não serve pra mim. Nós somos tão opostos... Você me faz mal. Você destrói o meu humor. Vou fazer questão de te falar de todos os meus méritos e me por acima de você. Vou te olhar com indiferença quando você disser coisas relevantes. Vou falar frases curtas que possam te fazer mal, mas não vou repeti-las quando você pedir. Eu sei o que você faz e sei é provocação, ao mesmo tempo em que sei que você ama outro e que de fato eu não tenho importância nenhuma. Saber disso me torna um idiota.
Eu deveria isso... Eu poderia aquilo... Eu conseguiria fazer tal coisa... E de fato eu estou aqui, de joelhos, perdendo tempo de coisas necessárias e que eu já nem as quero mais. Foi você. Eu perdi o interesse e foi você! Eu te amo e a culpa foi sua. E agora? E agora?

sábado, 10 de abril de 2010

o corte

um corte sem a intenção, uma lembrança tua e o respirar avivou-se até sangrar a epiderme. é uma marca física da tua eternidade, pra que nem mesmo diante do espelho eu esqueça de quanto meus poros te respiram; e agora é você dentro de mim ou o contrário, tu me és e eu te sou.

domingo, 21 de março de 2010

o vento

o vento constante que me torna novo e sopra que a totalidade tende à morte. paradoxo...

segunda-feira, 8 de março de 2010

(...) e daí?
quando eu chego em casa eu nunca sei o que fazer
e eu penso "o que eu vou fazer?"
o que eu vou fazer da vida? (...)

_

Flávia, eu te odeio e eu te amo

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Se não uma despedida, uma declaração de amor

Eu não gosto de partidas. Algumas vezes eu já senti como funcionam, mas a verdade é que eu nunca me sinto preparado. E dessa vez não parece diferente. O tempo parece ingrato. Mas de suas piores dores, o que mais sinto é a impotência quanto ao tempo pretérito. Não poder voltar atrás é quase tão claro quanto visíveis são as letras que trasponho agora – apesar de que a compreensão pode ser algo pra além do óbvio. Mas o que arrebata meus olhos deveras é pensar no quanto eu errei ou deixei de fazer ou por fazer.

(Antes eu deveria me justificar. Falar de quem eu sou. Eu peço pra que tudo que vem adiante seja interpretado, sentido, como uma realidade, que é nos meus olhos. Enquanto eu me entrego, não pensem se é certo ou errado. Pelos meus olhos, é só o que eu vejo, entendam. Usem, pra tanto, meus olhos!) Do futuro eu tenho mais medo que vontade. Não que isso seja uma coisa ruim, ou que a vontade seja pouca, não. Medo, de continuar me cobrando por um passado, que está por vir, e que não tenha chegado. Isso foi meio complicado: medo de me arrepender. É o risco que eu enfrento. Porque como de “um de vocês” (um de vocês, como nunca antes, além da própria família, eu tinha me sentido e talvez ainda, mais eu mesmo enquanto um de vocês). Porque como de “um de vocês”, unidos pela diferença, eu tenho sido tão único entre nós: eu me declaro torto, é difícil de entender, mas... A pessoa medíocre sem grandes feitos, fadado ao corredor não iluminado da vida dos homens que pensam igual. A perfeição atropelada – e eu não peço desculpas por admitir minha natureza. E por ser assim que a perfeição de atitudes que, eu penso, poderiam acontecer, morre em mim. Esses são meus erros e ausências com vocês e comigo, que não cabem aqui exemplos. Apenas entendam que assim é que eu sou.

Talvez eu pudesse criar um fluxo da perfeição pretendida às palavras, antes que ela morra nos meus pensamentos! Eu tento isso agora. Eu os amo! A profundidade disso é indescritível, por maior que seja o vocabulário ou a mais afiada linha de pensamento. Eu queria abraçá-los, enumerar os porquês, ajudá-los quando necessário, ser mais presente... não garanto por ser só mais um ser torto. Me cobro por parecer isso qualquer coisa tão banal, mas de fato agora eu penso que as palavras só poderiam entortar a pureza dos sentimentos. Não sei dizer o quão protegido me sinto, o quão em paz, em casa, no ninho. O quanto me faz bem ser, com vocês. Não sei traspor a força disso, que eu não consigo nem pensar, só mesmo sentir. Talvez já seja o bastante, visto que de fato o bastante é indescritível.

Foi difícil prolongar o que vem agora, apesar de saber que numa perfeição, os grandes amores não agradecem. Desde o início, palavra mais frequente é OBRIGADO. Agradeço a vocês. Se eu gosto do que sou e dos resultados que alcancei, é porque muito das cores, risos, olhares, pensamentos, ideias, expressões, jeitos; muito de vocês é hoje grande parte de mim. E o que mais uma vez me vem: obrigado. Eu, definitivamente, os amo. Quero tê-los eternamente, sem medo da força desse gigante: eternamente. Porque sei que mais forte é o elo que temos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Por mim

Hoje é um daqueles dias que não importa pra qual lado eu olhe, acabo me deparando com as derrotas. As minhas fugas. E rodeado eu não escapo, acabo em mim mesmo. Hoje eu contrario os discursos bem sucedidos e acabo pensando como eu queria que fosse diferente. Como eu gostaria de ser diferente. Eu queria explodir.
Talvez pra começar eu queria fazer mais por mim. Acho que no fundo eu nem gosto de mim. Enquanto escrevo eu imagino a minha cara amargurada, a pele esticada mapeia as imperfeições do meu rosto torto. Não gosto de lembrar o meu rosto agora. Vida torta. Eu queria não ser tão morto, por mim! Eu queria poder dizer que eu dou a própria vida por mim mesmo. Sabe, ter vontade?
Antes de tudo eu queria me pedir perdão e me perdoar. Daí eu queria explodir. A cada ofensa que me fizeram, a cada situação a contragosto. Eu queria ser mais verdadeiro comigo mesmo. Acho que eu fujo da vida. Eu choro baixinho... eu tenho medo de mostrar que eu choro, medo de me entregar a isso e medo de ser visto assim, tão vivo. Eu queria sentir, nu, na praça na minha cara na frente de todo mundo, dar um grito com medo e de vida, pra não ter mais medo: ME DEIXA VIVER!
Queria tanto lutar mais por mim... sabe, renegar a segunda opção de qualquer coisa, não me contentar com nada que não o primeiro lugar. Queria não viver de sorriso amarelo e cheio de segundas colocações. Queria não ter aprendido a falar "mas pelo menos...".
Eu não to satisfeito. O meu olhar mais vago vem de quando eu penso em mim, olho pra dentro e vejo tantos momentos, quase fotos na minha cabeça. Porque os piores momentos são sempre os mais marcantes. Acho que da amargura vem o medo de ficar sozinho. Não sozinho de fato. É não querer ficar consigo mesmo, só mais uma última fuga.
Então, por favor, pelo menos hoje, eu só não quero ficar sozinho.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

omiti todas as ligações

Omiti todas as ligações, fingi não ouvir, mesmo (Mas não esqueço os nomes e recebo suas ligações incompletas como os mais sinceros beijos de amor). Não gosto de receber tanta coisa boa pelo telefone. Ou desejos engessados, ainda pior. O ego cresce e a cara imbecil aparece com o ‘obrigado’, quer de mentira ou de verdade. Não gosto nem pessoalmente das coisas boas. Os ‘grandes momentos’ sempre me deixaram um tanto incomodado, sem jeito. Acho que nasci pra amar o comum e descobrir o que se tem de bonito no que ninguém nota. O comum que eu sou, quase todos são. Nas mesmas respostas, nos gostos, até no pensamento “diferente”. Comum é sinônimo de previsível? De sem graça... Vi um filme há uns dias em que a personagem se arrependera em não dizer seu amor a alguém que morrera. Ora, se havia amor... a gente sente na alma, em alguns momentos de eternidade. Momentos comuns, os quais eu guardo e me fazem feliz, deveras. O sensível é a brisa que sopra no rosto da alma pálida. Palavra, dizer é a sonorização. parir, conceber o concreto. Aquilo que é certo o tempo faz ruína. E depois de tanto rodeio eu coincidentemente volto onde quis começar: o tempo que me move.

À meia noite o relógio apitou. Era o dia, mas ainda não era a hora. Que mania de ligarem à meia noite! Ao que for sincero – geralmente quem liga – até acho engraçadinho, mas é que aniversário não é ano novo (devaneio)! Nossa, eu realmente sou muito exigente e apegado a detalhes... Aos que se chateiam, perdão, saibam que eu também gostaria que fosse diferente. Nos resta aceitar. Aliás, o que fica desses vinte anos é aprender aceitar.

Tenho visto mulheres lutando contra o tempo. E eu me perco, aqui, ali... Aceitar. Não é comodismo, aceitar o que se tem e o que é novo, é como expandir a alma abraçando à volta... isso é tempo. Falam de amor, dinheiro, conhecimento, felicidade, liberdade... Sabe-se lá! Dominar não é ter, deveras (devaneio. E no devaneio eu me deixo, nas palavras inacabadas). Volto aos meus remédios de mais um dia comum.