terça-feira, 30 de junho de 2009

ao fim.

É no fim do dia,
depois que o sol se põe,
e quando falar de um céu azul já parece loucura;
é quando as músicas não podem ser ouvidas;
é quando a alegria cega se desgasta,
e quando, em seu lugar, a incerteza preenche o vazio deixado;
é quando não há mais calor pra abraçar um corpo só,
e quando o frio que chega nos pede proteção;
é enquanto a própria presença se cansa,
que a ausência arrebata a existência;

é quando a luz perde a força,
e o que resta é o escuro,
que me impede de ver o mundo,
e minha dor é único grito;

e, ao desenrolar dos segundos,
o que era dúvida torna-se certeza,
e ao fim, o depois,
que só é ocupado pelas lágrimas que correm;

no início, um dia que ameniza o susto,
e as dores pareciam tão distantes,
e eu me encontrava tão lúcido...
e no fim, o escuro que me tira os fundamentos,
e o que sobra é a fragilidade,
e já não sei se o que sinto é medo da dor ou a própria dor..

Na ausência do que me conforta
percebo que segurança ainda é distante,
aprendo que a calmaria é passageira
e o que sobra ao fim (de mim mesmo)
é um sentimento, fluído, do meio do peito, vai suave aos ombros
é sinal do meu amor e da sua recusa
e ao fim, só o amargo de existir é o que resta.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

..mudanças..

Já não é mais de ti que eu falo nessas minhas deixas secretas que só a ti foram expostas.
Já não fazes mais parte da minha realidade e raramente sais pronunciado da minha boca.
Hoje, és um sonho, ruim, que se passou (jamais um pesadelo).
Mas eu não seria verdadeiro, deveras, se dissesse que não habitas meus pensamentos, ainda por um breve tempo.
O agora, secretamente (revelado), sinto-me despido e sei que dentro de mim ainda te encontro em turvas imagens, recordatórias de paz e horror.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

motivos pra seguir.

Hoje eu sinto tudo tão diferente.. talvez sejam minhas percepções, porque desde que eu me recordo, não há grande mudança nesse(s) universo(s) que nos rodeia(m).. Eu sei que não sou alguém que sabe muito e nem sobre muitas coisas, apenas o que eu falo gira em torno do que eu sinto e do que eu penso, a cima de tudo. É estranho... o homem e suas concepções vivem ciclos que renegam o passado, e buscam uma nova essência no que antecede ao passado, assim sucessiva e gritantemente.
Hoje, eu sinto tudo tão diferente. É como um jogo, de convenções, em que os vícios e o egoísmo e as novidades aceleraram demais o ritmo do jogo. Em que pessoa nenhuma é capaz de acompanhar naturalmente, ao mesmo tempo em que não há como desprender-se de nosso inventado e incontrolável passatempo. Hoje eu sinto, tudo tão diferente. Minhas sensações, contrastadas ao meu existir, tornam-se pesos impossíveis de carregar. Tudo o que se pode absorver é exaustivo, gritante e doloroso. São as crias do nosso jogo, complexas em demasia. Nosso jogo, o jogo do absurdo. Busca-se compreendê-lo sem esperar uma resposta, além da reflexão. E, obviamente, ficamos sem respostas.
O que mais me dói é ver que as pessoas perderam o valor e os valores. Destes últimos, alguns deveriam mesmo ser esquecidos, mas outros, como a inocência e o respeito que se foram, nos tornam menos humanos, no sentido inventado da palavra. Hoje, coleciono nomes dos mortos nos telejornais diários. E o que mais me afeta é o sentimento de solidão. As pessoas têm sido menos gratuitas, e o sentido da amizade tornou-se apenas ‘ter alguém pra horas difíceis’.
Mas algumas coisas jamais perderão o sentido, como a ternura de um céu ensolarado, o equilíbrio de um céu estrelado, as luzes, à noite, na cidade, a pureza num sorriso de uma criança, fazer bem às pessoas que me rodeiam... e assim eu busco motivos pra seguir.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sejamos um!:

Quando penso, prefiro não pensar. Prefiro não ser, tenho preferido. Tenho escolhido viver apenas quando convém. Às vezes morro de dor, mas usualmente me mantenho morto. Dizem que não há nada pior que a morte, mas enquanto não há vida, não há dor. Dizem também que não há dor maior que a dor da morte, mas como podem saber se nunca ousaram? Há tempos não me sentia tão morto..

Quando eu olho pra você, não sei o que grita mais alto. Se a euforia do amor que eu sinto que me estremece e estremece meus pensamentos, se uma paz, nua, por tamanho bem que você faz aos meus olhos, ou se é a dor de saber que por mais de perto que eu olhe, por mais que o tempo se estenda, eu não poderei te tocar, e em momento nenhum nós seremos, juntos. O fato é que esses gritos - de uma boca silenciada por um suspiro que me invade e rasga, e deforma, e massacra, o sentido que não é simples de se conquistar – são simplesmente sons de um coração pulsando, a batida que me traz à vida.

Triste (é o seu) jogo, este o qual meus olhos brilham por (você), que não tem lógica que explique (sua ausência sentida) e nem justiça que condene ou defenda (suas jogadas frias). (com você) Eu não sei jogar sem entrega, e o que sobram são gritos de silêncio (com seu nome ecoando nas paredes e fazendo sentir a presença da tua ausência).

E o silêncio que invade as orelhas dói. Os lugares onde eu te vi machucam os olhos e os gritos continuam silenciados. Essa é a dor de quem espera, me torno por mais uma vez um prisioneiro do tempo que me ata – me isola amargamente e me cura, brando.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

o que além disso deve ser o viver?

Talvez hoje, talvez só agora, alguma coisa importante em mim mesmo tenha acompanhado as transformações que tão presentes e imperceptíveis se passam em meu mundo - que é todo meu...
(Trans)formo minhas próprias visões (literais ou não), e agora me sinto bem. Eu sinto. Eu percebo, eu sinto!

Meus dias têm sido particulares e neles – em mim – transpiram lembranças, novidades, músicas, poesias, textos filmes livros, tudo em forma de sensações que eu mesmo clamo ou então resisto enquanto puder diante da mais fantástica degustação que a nós, frágeis humanos, é possível comportar: sentir
Tateio o sentir, meus poros expandem-se e as sensações me vestem cobrindo toda pele, à flor da pele.
Sinto como se um frio, e o que eu sinto na pele sintoniza meu corpo, como a leveza de uma brisa qualquer...
em que já não se conhece o que se sente, em que a sutil linha que separa dor na pele e prazer na pele já fora infringida.

Eu lambo o sentir. Sinto seu gosto no amargo no doce no azedo no salgado da língua.
Abro a boca – e de olhos fechados me livro de pudores me entrego me permito, enchê-la do que me faça sentir.
A língua busca mais; lambuzo-me.

Eu arregalo para sentir. Eu vejo dentro de mim, vejo fora de mim, vejo longe, vejo perto... vejo de olhos fechados, vejo de olhos abertos..
vejo até o ardor que me provoca o sentir tocar meus olhos que repelem as lágrimas – aquilo que meu corpo expele.
Pupilas dilatadas, olhos bem abertos para aumentar a sensação.. às vezes meus olhos se cansam e às vezes descanso meus olhos e vejo de outra forma..

Inspiro sensações, para que por dentro possam ser transformadas.
Faço força e barulho, num ritmo que se torna a música de meus sentimentos..

Eu ouço o sentir. O que pode ser sentido invade meus ouvidos e penetra sem consentimento e com tamanha força.

Meus ouvidos decodificam e não há forma alguma que possa igualar a transmissão do sentir de forma tão bela. Ou dolorosa. Ou sensível, por si.

Dias privados, mas dias em que estou aberto, receptivo... dias únicos. Dias íntimos. Exalando a maior força de sentir, acentuando percepções. Minhas dores têm sido mais intensas e minhas alegrias mais vividas.. Eu percebo, e sinto muito. Tenho vivido de sentir.

Difícil é compreender, harmonizar-se com o que é ‘invisível’ aos olhos. Mas dizem, e creio então, que sentir é essencial. Difícil é, além, buscar a felicidade eterna, a responsabilidade de ter bons dias pra sempre.
Pois hoje, e só agora então, eu ouso romper e transformar. Ouso não deixar meus dias passarem despercebidos. Tristes, felizes, sobretudo sentidos, para que façam sentido. Isso! Não despercebidos! Perceber, sentir... o que, além disso, deve ser o viver?

... E se ao fim de cada dia o sol se por (e ele tem se posto), é porque tudo está como deve estar, como tinha de ser.. É porque as loucuras contemporâneas ainda não espantam o tempo e o mundo, e sendo assim eu devo seguir, na ciranda insana dos dias.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

palavras a alguém importante..

[...] Eu me perco na infindade dos pensamentos e das possibilidades enquanto busco explicações, justificativas, enquanto tento organizar em palavras um rumo pra mim mesmo.. mas não funciona mais.. Não sei o que mudou, se minhas concepções sobre tudo ou se as próprias coisas.. Hoje tudo me parece turvo e as palavras se escondem... Não sei o que lhe dizer, e nem a mim mesmo, além de palavras manjadas como o óbvio que tento acreditar e me apegar;
Eu me perco, perco o sentido e às vezes sinto-me longe do que é lúcido; medo, ausência, coleção de derrotas, tempo desperdiçado. Tudo acumulado, e tudo recomeça. [...]
em meio à tempestade.