sábado, 12 de novembro de 2011

pesadelo


                Eu simplesmente não consigo acordar desse pesadelo e tô até pensando que é isso que costumam chamar de vida. O inferno é aqui. Abro os olhos tardiamente todos os dias. Durmo acordado até quando meus ossos doem por afundarem na cama.  Durmo na espera de acordar de vez, acordo e continuo sonhando. As cores parecem mais mortas que no próprio sono. O vento só toca a crosta de calor que envolve o corpo. Meu corpo pesa mais que nunca. Carrego pelo mundo o peso dos meus olhos tristes. A dor nas articulações magras e gastas – porque se lixam umas nas outras – parece o último resquício de vida. A gravidade pesa mais que nunca. Nossas paredes de concreto represam qualquer forma de vida. Eu tento olhar além e buscar cores de realidade, mas, meu deus, o pesadelo embolora todos os cantos.  A miséria do homem em todos os sentidos, a morte como o novo produto, a desimportância de ser. As bem reputadas prisões verticais que nos impedem de enxergar o que havia antes a cima, o céu. A massa negra sob nossos pés aumenta o impacto entre nossos ossos. O mapa verde e azul me parece marrom em toda sua parte, o verde queimou-se em dinheiro e o azul contaminou-se em lixo. Marrom. Os animais gritam sem controle à nossa morte e com razão. A insanidade do que já não se lembra o quê. Um mundo em que se espera o fim em nada ou em baratas não podia mesmo passar de pesadelo. Talvez não se possa acordar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

parte


Os nossos corpos são as contenções das nossas existências. A nossa pele é a última capa que nos faz (à) parte. Enfim, estamos aqui, (à) parte. E a vida pare todos os dias, ao abrirmos nossos olhos, um mundo valente e cru, eternamente maior do que nossas existências. Algo em nossos olhos é ansioso. Alguns dias, algo em nosso olhos expele toda essa ânsia, dias em que nossos corpos não conseguem conter a força da vida. Nós rompemos o limite de nossos corpos e nossos corpos ainda nos contem. Não é fácil suportar a vida quando a vida pra nós é ímpeto desmedido. Os corpos não suportam a vida: morrem aos poucos. Somos (à) parte. Somos partes que afirmam suas existências no vazio do outro. Somos partes completas que formam um todo. Algo em nossos olhos não vai parar de ser ânsia, mas meus olhos agora se apoiam nos teus e a vida parece mais simples, então. E o que vai ser depois não se sabe.