quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

a nova personagem

Eu quero ouvir aquele toque de mensagem. Eu quero olhar nos olhos de alguém(ns), mas quero, além disso, que olhem nos meus olhos, e tudo isso em frações de segundo, por várias e repedidas vezes, enquanto caminho com pressa de buscar esses olhares que se encaixam aos meus, e sem nenhum outro propósito.
Eu quero ser mais visitado, mais lembrado, mais desejado e por todas as vias de sentido possíveis. Quero que meu nome seja dito em lugares que nunca foram. Que meu cheiro fique (mente e matéria) aonde nunca permaneceu. Que os meus não façam sem mim. Quero como sempre que seja como nunca foi. E apesar de tanta vontade, creio que a barreira invisível seja inevitável.
Por e para tanto, serei outro, e por mais complicado, desta vez minha personagem há de transbordar por todos os lados, cobrindo aquilo que até então não tinha cor e nem graça. E eu os terei, em detalhes que já cultivo e em novos truques, dentre tanta ausência e decadência que me rodeia, sem ofensas, apenas me cobro demais.
E que o brilho da visão que recebo enquanto a ausência da sobriedade se faz presente possa se tornar o brilho comum dos meus olhos. Ou, no mínimo em fatos concretos, que eu perca o medo de fugir da normalidade, afinal essa não me causa mais nenhum gosto.

sábado, 20 de dezembro de 2008

lágrimas que fogem

Havia tanto tempo em que eu não chorava.. [uma semana não é muito tempo]. Não deste jeito. As lágrimas gritam através dos saltos que acontecem de dentro de mim, e para fora, sem nenhuma força contra ou a favor; naturalmente. O motivo sou eu, e os outros, e tudo que acontece num solitário dia de confraternização. Não posso mais contar quantas vezes eu já vi esta cena. Um quarto vazio, coisas por fazer e revirando ainda mais toda confusão. Eu, e nada mais. Música, um momento de prazer e acefalia, e tudo recomeça.
As lágrimas correm com mais força quando sentem que só existem por não existirem momentos para sorrir, ou para serem relembrados com alegria. Elas têm razão em querer livrarem-se da cumplicidade de uma vida de lacuna. E tudo isso tira de mim mais um pouco da minha vontade e da minha possível coragem, que saem transparentes e morrem numa rápida tentativa de darem certo.
Isso muito me assusta, porque este segundo, e mais esse, e esse que virá, serão todos mortos sem nenhuma causa e nenhuma alegria. Muitas de minhas células morrerão, logo partes de mim, sem vivenciar nenhum fato de orgulho. Assim como a maior parte de uma vida oprimida por mim mesmo. Pelo medo da reprovação, que tive, e não mais desejo.
Porém espero, por mais vezes e com mais força, chorar minhas nobrezas e morrer por mais vezes, para que eu possa ainda nesta vida, ter uma nova. Para que a dor me transforme em algo que eu sonho ser, não o oposto de mim, mas alguém que tem mais vontade de não ser indiferente, pelo menos para mim mesmo, e que as próximas partes minhas que se forem, tenham em um adjetivo bom, tal qual intenso, ou feliz, a definição de suas histórias, fases de minha vida.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

códigos

Eu ouvia Adriana Calcanhotto enquanto aguardava no trânsito lerdo das ruas invisíveis que eu nunca, sequer, pude imaginar. E aguardava durante horas, com toda a imobilidade que eu, de fato, não tinha. Flagrei-me preso na rede que limita o que penso. Pelo menos eu pude ver.
Todos esses dias eu tenho sido somente seqüências. De números, senhas e códigos, nada além. Nada além do necessário, o necessário para mergulhar nessas ruas. Ruas que me cegam com um claro branco que não me permite ver as trajetórias, mas somente os destinos finais. Nada é realmente o que eu posso ver. Tudo são códigos. Códigos que usurpam e transfiguram a realidade. Você (eu) não deveria confiar neles.
Você perde o seu tempo, todos os dias, e todas as horas que ele tem, e todos os minutos que tem as horas, e os segundos e suas frações.. enviando, recebendo, sendo, seqüência de números, senhas e códigos. E no fim você já acredita que pode ser o que você vê nas ruas, nunca!
Mas continue se enganando, essa é uma forma, mesmo que ainda assim contida (como você é patético e covarde!), de ser o que você gostaria de ser. Mas, no mínimo, não tenha medo da conclusão: Você só se faz ideal na mentira, em códigos..

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

cheiro do medo

Eu não tenho medo das pessoas. Eu tenho instinto. Instinto contra o(s) desconhecido(s). Instinto e um bocado de experiências. Não seria espantoso para mim qualquer tentativa de perturbação que eu pudesse sofrer. Seja um grito para me assustar, mãos que possam alterar meu equilíbrio ou minha temperatura, ou gargalhadas que possam ecoar em minha mente. Nada disso me seria surpresa, pois, sempre que estou sozinho pela rua, o cheiro do medo é o que meu corpo exala e é o que me rodeia. Do medo. É o sentimento base da reação que teria a qualquer tentativa. Por que o medo, e não a cautela? A pergunta é respondida por um exemplo: Quando sinto que devo temer, é quando fico à flor da pele, quando aguço meus sentidos para evitar o susto, é que eu me fragilizo e aí então o susto me toma por inteiro, mais do que se estivesse distraído. O fracasso. E por que tudo isso? Mais uma vez, essa é a minha natureza.
Quando estou nas ruas sem motivos, é como se a necessidade do medo fosse ativada. E não importa o quanto eu queira, eu não consigo ser mais forte do que minha sensibilidade e minha atenção à volta. Divido-me em três. O medo infantil que grita, chora, arranha, encolhe e esconde e busca segurança, sem harmonia social; a estabilidade e o intermédio com o mundo externo que dá gestos ao meu corpo, tornando cada movimento em cálculo, e vice-versa, procurando equivaler ao que se vê; e o receio, cautela, que arregala os olhos e sensibiliza o corpo e o que se sente, buscado reagir aos repugnantes possíveis pensamentos ou arapucas alheios.
Nenhum de nós (três) consegue enxergar que o ego é o maior erro, talvez a segunda pessoa, mas, logicamente, os dois errantes conseguem maior espaço, e a minha vida tem sofrido danos desde os surgimentos das minhas faces características.

domingo, 7 de dezembro de 2008

as marcas não são as mesmas

Hoje eu vejo a cidade com um olhar de quem por fim descansa os pensamentos e as visões em coisas reais, concretas. Eu vejo as minhas ruas diferentes, os cenários mudaram, as ruas e os detalhes agora são outros, tornaram-se marrons, e o marrom, que por sinal nunca me interessou, hoje me diz ausência de vida. Não morte. Agonia, desalento, abandono, desistência..
As marcas estão em todo lugar, embaixo dos calçados, nas calçadas, nas roupas enlameadas, nos pulmões que respiram poeira, nos olhos que ardem, nas mãos que secam e nas peles que se sentem imundas. Na lama que soterra não só aquilo que é tateável, mas também muitos de nossos sonhos e alguns sentimentos, gerando outros.
A tristeza e o medo estão no marrom das ruas, na ausência de pessoas e nos postes que apagados ou caídos; ou quem sabe nas fortes histórias. A sensação de andar por esse cenário e de ‘idealizar’ as histórias gera dor, brutal, atípica, que mexe com as barreiras do sentir, de forma que nunca imaginei, e não quisera.
Ser família hoje foi o melhor ‘eu te amo’ que poderia ouvir ou quem sabe o melhor carinho que meu corpo desejava. Estar na confusão do ouvir tudo e entender nada, das risadas até sem motivos, do gosto que as coisas só adquirem quando estamos juntos, da notícia de pessoas que eu nem conheço, mas muito me interessa, da imagem que guardo em mim mesmo de sorrisos de quem eu quero sempre ver sorrindo. Foi comum e especial. Da nossa maneira, diferente – mas nem tanto – sem palavras bonitas, sem gestos de afeto, o nosso ‘como sempre’ que sempre nos dá a certeza do amor presente.
Foi-se o tempo das lamentações, porque até as marcas já estão transformando. Hoje é tempo de valorizar o que restou de uma forma que nunca fizemos antes. Nós que ainda estamos aqui temos esse privilégio de sentir novamente e com mais força todo o sentimento daquilo que nos restou, e tenho certeza que o faremos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

meus monstros

Incapacidade. Falta de intensidade. Vida rápida. Medos.
Sinto que meus dias passam. Não como passam os seus. Mas como uma folha, em trajetória de desapego de uma árvore rumo ao chão: rápida e vã, despercebida entre tantas outras folhas no chão de um jardim. Sinto-me afogando na ampulheta, imóvel, tomado pela areia que a cada novo respirar me engole mais uma parte. Sinto o desespero perante a incapacidade (que criei) de não poder controlar as novas marcas que surgem sem parar por todo meu corpo.
Meus dias são privados, isolados, seqüelas de judiações que sofri e que presenciei calado. Além da super-proteção que me ensinou que se há algum risco, melhor não tentar. Hoje olho meus pais, e vejo que a ousadia da tentativa incerta é o que lhes faltou para serem felizes. Vejo também que estou tornando-me um deles. O medo do escuro me ata por inteiro, mas aguça todos os meus sentidos, que pedem uma, sequer uma tentativa. Sem resultados.
O meu interesse em ser aquilo que gostaria, em dominar o que me fascina, me torna impotente. Mas a repulsa em querer estar longe do que via nos espelhos do meu passado fala mais alto. Logo, não sou isto e nem aquilo. A incapacidade me fere feito furo de agulha. Forte, breve, mas sobretudo não mais se deseja sentir na vida. E por isso não costumo me arriscar.
E meu medo maior, gerador de meus suicídios tão freqüentes (materialização de minha fuga, afinal, não se pode sentir duas dores ao mesmo tempo; assim crio e contemplo mil chagas por toda minha parte) é a tentativa frustrada. A minha maior e melhor defesa é a palavra que disparo como tiro de arma, sempre que questionado. “Eu não dei o meu melhor, se quisesse, faria mais.” Mas toda defesa é contestada por quem a defende, em algum momento, no escuro, no silêncio, no vazio. “E o meu melhor, seria suficiente?”.