quarta-feira, 28 de abril de 2010

aprendi

Olha: depois de três anos convivendo num mesmo corpo, o meu, que era habitado simultaneamente por um sentimento dominador e obsessivo... acho que por mais que os erros tenham se repetido um pouco ainda hoje, eu ainda posso falar que aprendi alguma coisa. Durante três anos eu quis renegar, eu quis me entregar, eu quis morrer, e no fim das contas, quando o sábado terminava e tudo aquilo acontecia de novo, quando eu não fazia a menor ideia de onde você poderia estar, quando eu ouvia em gritos todas as possibilidades de maus acontecimentos e não conseguia dormir... eu aprendi. Eu aprendi, acima de tudo que qualquer situação é aceitável. Mesmo no escuro, os nossos olhos podem se adaptar, nossas mãos podem tatear... é uma questão de tempo, até que o vulcão vire pedra, uma parte, uma marca, uma cicatriz. Hoje é isso, você foi a minha maior cicatriz, o motivo de uns textos.
Hoje eu sei que o sentimento dentro de mim é outro, eu sou outro também. A maneira que ele me acorda, num sussurro magoado, não é o grito assustador de outrora. Percebi que a minha sensibilidade continua bonita quando eu amo, e percebi quando eu quis correr atrás da lua, brilhante, gorda! Mas às vezes dói, e eu não sei se vale a pena passar sem amor, ou amar sem resposta. Mas hoje isso não é uma escolha.
Eu te amo, mas eu faço meus dias passarem. Eu dou vida aos outros na minha vida, eu sorrio com o sorriso dos meus. Eu acho que eu to em sintonia, talvez. Hoje eu aprendi a te amar, por te amar. Hoje eu aprendi a te ver, só com um olhar protetor, pra que nada te faça mal. E quando eu te olhar, não repreenda; eu só to te protegendo com o meu olhar bobo, de quem ama. Não dói tanto saber que tu não me amas, eu aprendi a conviver com isso, durante três anos... Hoje o mundo é maior e enquanto eu te amo o tempo passa, e a mudança vem com o vento que sopra frio, hoje, na janela.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

flor

Hoje eu acordei com saudade do que eu não pude ter por inteiro. Os objetos mal iluminados de minha casa completam o espaço com suas sombras cinza. O dia hoje é cinza. Cinza é o resto sem utilidade do que um dia foi vida, morbidez. Hoje, eu queimo mais uma pétala da nossa flor: a flor que é bonita por exalar vida, que não é delicada nem tampouco bela por ser bela. A flor que, concordemos, não nos convém.
Ontem, enquanto esperei pelo meu sono, não pude conter a fluidez dos meus pensamentos rápidos, que fogem do controle. Nos meus olhos amargos eu senti ou supus os sentimentos. Imaginei suas falas, eu pude ver suas ações e repetir suas frases. Pude nos imaginar juntos e lembrar nossos dias sinceros. Pude imaginar você com outro, morrendo de amores, tentando afogar nossa flor. Me sinto como num pecado quando imagino você e ele. Eu sinto prazer quando penso, e eu me culpo mais. Será que eu gosto mesmo da dor? E eu despertei desse tormento por um momento de vida. Às vezes dormia.
Você não serve pra mim. Nós somos tão opostos... Você me faz mal. Você destrói o meu humor. Vou fazer questão de te falar de todos os meus méritos e me por acima de você. Vou te olhar com indiferença quando você disser coisas relevantes. Vou falar frases curtas que possam te fazer mal, mas não vou repeti-las quando você pedir. Eu sei o que você faz e sei é provocação, ao mesmo tempo em que sei que você ama outro e que de fato eu não tenho importância nenhuma. Saber disso me torna um idiota.
Eu deveria isso... Eu poderia aquilo... Eu conseguiria fazer tal coisa... E de fato eu estou aqui, de joelhos, perdendo tempo de coisas necessárias e que eu já nem as quero mais. Foi você. Eu perdi o interesse e foi você! Eu te amo e a culpa foi sua. E agora? E agora?

sábado, 10 de abril de 2010

o corte

um corte sem a intenção, uma lembrança tua e o respirar avivou-se até sangrar a epiderme. é uma marca física da tua eternidade, pra que nem mesmo diante do espelho eu esqueça de quanto meus poros te respiram; e agora é você dentro de mim ou o contrário, tu me és e eu te sou.