domingo, 4 de julho de 2010

o cheiro na ponta dos dedos

Hoje, pela manhã, eu percebi como eu tô livre pra me permitir ver em alguém o que eu vi - ou ainda vejo, já não tenho tanta certeza - com aquele de outrora.
Eu lembro do cheiro do ar abafado que não circulava, ele ainda tá na ponta dos meus dedos, enquanto eu segurava com precisão os lençóis e as fronhas, eventualmente encostando nos dedos dele e, eu lembro, eu me permiti explosões químicas resultantes do toque das nossas peles. Ele já não é mais o mesmo ele de outrora, ele já não é mais ninguém ainda. JÁ não é mais ninguém AINDA, o anacronismo me remete a um estado de conclusão de ideia. Minha respiração fica mais forte encostada nos meus dedos, eu não quero esquecer do quanto eu tô livre, eu quero cheirar os meus dedos e lembrar de hoje.
Eu permiti deixar meus olhos abertos, eu permiti guardar a forma do teu rosto, do teu corpo na minha mente. Eu permiti saber dos teus cílios e das tuas sobrancelhas, como eu amo teus cílios e tuas sobrancelhas!, seja lá quem tu fores. Eu permiti ouvir a tua respiração forte e cansada do meu lado, eu permiti sincronizar nossas respirações e dormir com o corpo milimetricamente calculado, no meio do caminho, nem entrega nem resistência, mas sentindo o calor de um corpo que pulsou vida, que jorrou vida em mim e então parece que eu voltei à realidade.
Nem feliz, nem triste, não amo ele de outrora e nem ele que ainda não existe. Não agora. De fato e só agora eu descobri que eu amo é a minha capacidade de amar, eu amo o filtro pelo qual eu sinto as coisas, com uma capacidade imensa, amo poder ativar o macro e medir o tamanho dos teus cílios, ah, teus cílios. Com uma capacidade imensa pro bem, e pra autodestruição, ainda não entendo como, mas eu amo isso tudo.
Que importa fazer sentido, se a vida em si não se explica?

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