sábado, 1 de maio de 2010

sobre o vento

E quando tu sentires o frio na pele não te assuste!
De onde vem esse vento que me aguça o tatear dos braços e sossega numa dança a minha nuca? Na janela eu vibro em ressonância com as folhas das árvores, inteiro, envolvido por esse vento. Mas de onde vem? Por que não posso vê-lo? É quase cruel ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.
O barulho dos carros, a casa suja, a comida fria, o tempo desperdiçado. O sol, o céu e o vento existindo em suas plenitudes, avivando as cores dos prédios, das árvores, e seus movimentos. Mas o que importava agora era sentir o vento, na janela, como se à espera de algo, enquanto lágrimas e células mortas eram carregadas pelo vento, com os anseios que, ao passar do tempo, diminuem.
Ele ficou na janela por alguns minutos, observando o mundo como uma engrenagem, um formigueiro num aquário. Os pensamentos giravam numa velocidade incontrolável, já não faziam sentido, o mundo tinha se engrandecido e compreender a totalidade era demasiado difícil e amedrontador. Por ser racional demais, buscava definir aquela, a sua situação estranha. Pensou sentir falta. Do homem que não era seu, ou talvez de algo que estava por vir, algo desconhecido. Mas já havia dito: como é difícil ser acalentado por um desconhecido, ser abraçado pelo invisível.!
Ele ficou lá. Ele ficou lá eternamente, um quadro na memória, simples e complexo. Depois, a vida ativou a engrenagem e o mundo voltou a girar.

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