domingo, 11 de julho de 2010

__________I – Tudo conspirava pra que ele só fosse embora ao momento exato em que foi, não no momento que havia planejado. O destino o fez adiar – duas vezes – sua partida. O sono e a solidão – com quem ele sempre pode contar – o abraçavam enquanto o tempo corria num momento escuro em que não existia “lá fora” e essa foi uma das raras vezes em que não se sentiu de todo só, desejando sua solidão. Mas foi chegado o momento exato e ele partiu. O amargo saltava de seus olhos, acinzentando o dia. A música que ouvia – o único som – matinha seus olhos sempre úmidos, com a umidade de uma pessoa triste. A umidade dos olhos almejava ser o próprio mar, que era admirado da janela, num retrato vivo, numa regressão de tempo e espaço e fatos. O mar sem sol e suas ondulações, essa era a analogia da plenitude que tanto se sonha, mas sabe-se também que é inalcançável. O céu coberto de nuvens era a analogia de sua própria vida. Como sempre gostou de fazer analogias! O momento certo, em que o seu lhe soprava que mesmo com as nuvens a claridade chegava à superfície. E antes que pudesse compreender, depois da curva, no céu, as nuvens cortadas revelam o céu numa escala de azuis, a analogia acalmou o coração e ele estava estável. Como numa cena final de um filme, já era hora de acabar, sem pensar no depois, era hora do fim e isso era tudo. Ele foi embora, porque não podia ficar.

2 comentários:

Társis disse...

Nossa cara, demais isso!

Luiz Ricardo disse...

o fim valeu por tudo, é o que eu decreto. amigo s2