sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

meus monstros

Incapacidade. Falta de intensidade. Vida rápida. Medos.
Sinto que meus dias passam. Não como passam os seus. Mas como uma folha, em trajetória de desapego de uma árvore rumo ao chão: rápida e vã, despercebida entre tantas outras folhas no chão de um jardim. Sinto-me afogando na ampulheta, imóvel, tomado pela areia que a cada novo respirar me engole mais uma parte. Sinto o desespero perante a incapacidade (que criei) de não poder controlar as novas marcas que surgem sem parar por todo meu corpo.
Meus dias são privados, isolados, seqüelas de judiações que sofri e que presenciei calado. Além da super-proteção que me ensinou que se há algum risco, melhor não tentar. Hoje olho meus pais, e vejo que a ousadia da tentativa incerta é o que lhes faltou para serem felizes. Vejo também que estou tornando-me um deles. O medo do escuro me ata por inteiro, mas aguça todos os meus sentidos, que pedem uma, sequer uma tentativa. Sem resultados.
O meu interesse em ser aquilo que gostaria, em dominar o que me fascina, me torna impotente. Mas a repulsa em querer estar longe do que via nos espelhos do meu passado fala mais alto. Logo, não sou isto e nem aquilo. A incapacidade me fere feito furo de agulha. Forte, breve, mas sobretudo não mais se deseja sentir na vida. E por isso não costumo me arriscar.
E meu medo maior, gerador de meus suicídios tão freqüentes (materialização de minha fuga, afinal, não se pode sentir duas dores ao mesmo tempo; assim crio e contemplo mil chagas por toda minha parte) é a tentativa frustrada. A minha maior e melhor defesa é a palavra que disparo como tiro de arma, sempre que questionado. “Eu não dei o meu melhor, se quisesse, faria mais.” Mas toda defesa é contestada por quem a defende, em algum momento, no escuro, no silêncio, no vazio. “E o meu melhor, seria suficiente?”.

Nenhum comentário: