domingo, 7 de dezembro de 2008

as marcas não são as mesmas

Hoje eu vejo a cidade com um olhar de quem por fim descansa os pensamentos e as visões em coisas reais, concretas. Eu vejo as minhas ruas diferentes, os cenários mudaram, as ruas e os detalhes agora são outros, tornaram-se marrons, e o marrom, que por sinal nunca me interessou, hoje me diz ausência de vida. Não morte. Agonia, desalento, abandono, desistência..
As marcas estão em todo lugar, embaixo dos calçados, nas calçadas, nas roupas enlameadas, nos pulmões que respiram poeira, nos olhos que ardem, nas mãos que secam e nas peles que se sentem imundas. Na lama que soterra não só aquilo que é tateável, mas também muitos de nossos sonhos e alguns sentimentos, gerando outros.
A tristeza e o medo estão no marrom das ruas, na ausência de pessoas e nos postes que apagados ou caídos; ou quem sabe nas fortes histórias. A sensação de andar por esse cenário e de ‘idealizar’ as histórias gera dor, brutal, atípica, que mexe com as barreiras do sentir, de forma que nunca imaginei, e não quisera.
Ser família hoje foi o melhor ‘eu te amo’ que poderia ouvir ou quem sabe o melhor carinho que meu corpo desejava. Estar na confusão do ouvir tudo e entender nada, das risadas até sem motivos, do gosto que as coisas só adquirem quando estamos juntos, da notícia de pessoas que eu nem conheço, mas muito me interessa, da imagem que guardo em mim mesmo de sorrisos de quem eu quero sempre ver sorrindo. Foi comum e especial. Da nossa maneira, diferente – mas nem tanto – sem palavras bonitas, sem gestos de afeto, o nosso ‘como sempre’ que sempre nos dá a certeza do amor presente.
Foi-se o tempo das lamentações, porque até as marcas já estão transformando. Hoje é tempo de valorizar o que restou de uma forma que nunca fizemos antes. Nós que ainda estamos aqui temos esse privilégio de sentir novamente e com mais força todo o sentimento daquilo que nos restou, e tenho certeza que o faremos.

2 comentários:

Karina Buzzi disse...

Agora é recomeçar. :/

R., R., Rosa disse...

sentimento que brota do olhar vazio.
do sentimento da perda.
mas o modo de viver, o costume da crença. a experiência com a desgraça.
por vezes fazem dos homens criaturas com tamanha força que nenhum braço, mecanico ou não, consegue medir.


(?)

abraço marcus.