quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

carta de amor a PR

Ah, que lindas tuas palavras. Cheguei a me apaixonar um pouquinho, haha.

Gosto tanto quando eu te encontro de peito-aberto, num e-mail ou nos olhos. Fico maravilhado com a tua capacidade de ser dual: entre a simplicidade de uma criança e a complexidade de alguém que entendeu o mundo e tá voltando pra me contar.

Me parece que tudo é sempre resultado do trânsito entre dois extremos opostos (já tão banal dialética que quase perde o sentido). Em geral, quando eu entro nesse estado de devaneio, sozinho ou com alguém, pensar nisso é um dos remédios que conseguem aquietar a minha ânsia. O outro chama tempo. Mas como não se angustiar sabendo que o resultado é trânsito? Trânsito em si implica em não ser definido, definitivo, e sim efêmero... Como se cura uma febre com o remédio invisível chamado tempo? Como se cura uma febre com trânsito entre paradoxos, tentando ao mesmo tempo aumentar e diminuir a temperatura do corpo? E ainda assim, não se fica no mesmo lugar!? Acho que a solução é aceitar a febre, sofrer a febre, padecer da febre.

Imagens são tudo no início [...] mas os sonhos solidificam, viram forma e desilusão. Heiner Müller me faz pensar que essa deve ser mesmo a tensão de viver. Estar pelo sonho, estar pela sua concretude e sofrer pela sua eterna incapacidade de ser real. E aí sonhar de novo...

Que lindo é esse nosso dom de falar e ser entendido.
Tô amando umas palavras nesses dias: coagular, padecer, sofrer, febre, ânsia, água-viva. Poderia escrever sobre elas e tentar entender o porquê desse brilho dos olhos com cada uma delas, mas não.

Será que a nossa conversa fala a mesma língua? Será que o meu português claro é o seu? A gente nunca vai saber [!]. Espero que de alguma maneira as nossas palavras criem vínculos. Em mim, as tuas têm florescido, com pesar ou não. Quero te ver pessoalmente pra sentir que tudo que a gente escreveu até aqui é fugaz demais, incompleto demais pra dar conta do encontro, de qualquer encontro, da vida em andamento. Porque, me parece, a vida, essa vida, é uma surda-muda! Haha.

Beijo,

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