domingo, 22 de abril de 2012

sobrecorrer

To com uma vontade de sair correndo. Me perguntaram o porquê. Fiquei imensamente feliz em poder responder. Porque eu gosto de correr. Dessa vez eu não quero fugir. Porque eu gosto de correr. Eu gosto da dor que faz o baço, eu gosto do ardido que desce pela garganta a cada respiração. Gosto de lembrar que minhas pernas doem onde eu nem imaginava que poderia doer. Na verdade, eu gosto de sentir vivo. Eu gosto do suor, do coração pulsando, reverberando até nos fios do cabelo. Dessa vez eu não queria não me atrasar. Porque eu gosto de correr, sem nada a perder. No fim eu tenho pouco a perder. No final tudo se acaba, e se acaba, acaba bem. Eu corro e deixo todas as coisas pra trás. Eu deixo meu trabalho, minha faculdade, deixo minha família, deixo minhas células mortas e a água que o meu corpo expele. No fim eu tenho pouco a perder e o mundo todo na minha frente. Dessa vez eu não quero não ser visto. Eu corro porque eu gosto de correr. Eu corro cru, sem pensar, corro pra chegar na liberdade. Chegar na liberdade e empurrar pra longe por lembrar que eu corro porque eu gosto de correr e é só isso. Eu corro como uma árvore, como o mar e como o vento. Sem pudor, sem razão, sem explicação; descaradamente violentamente intensamente cru. E no fim eu tenho um pouco mais e um pouco menos de vida.

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