Eu
simplesmente não consigo acordar desse pesadelo e tô até pensando que é isso que
costumam chamar de vida. O inferno é aqui. Abro os olhos tardiamente todos os
dias. Durmo acordado até quando meus ossos doem por afundarem na cama. Durmo na espera de acordar de vez, acordo e
continuo sonhando. As cores parecem mais mortas que no próprio sono. O vento só
toca a crosta de calor que envolve o corpo. Meu corpo pesa mais que nunca.
Carrego pelo mundo o peso dos meus olhos tristes. A dor nas articulações magras
e gastas – porque se lixam umas nas outras – parece o último resquício de vida.
A gravidade pesa mais que nunca. Nossas paredes de concreto represam qualquer
forma de vida. Eu tento olhar além e buscar cores de realidade, mas, meu deus,
o pesadelo embolora todos os cantos. A
miséria do homem em todos os sentidos, a morte como o novo produto, a
desimportância de ser. As bem reputadas prisões verticais que nos impedem de
enxergar o que havia antes a cima, o céu. A massa negra sob nossos pés aumenta
o impacto entre nossos ossos. O mapa verde e azul me parece marrom em toda sua
parte, o verde queimou-se em dinheiro e o azul contaminou-se em lixo. Marrom.
Os animais gritam sem controle à nossa morte e com razão. A insanidade do que já não se lembra o quê. Um mundo em que se
espera o fim em nada ou em baratas não podia mesmo passar de pesadelo. Talvez
não se possa acordar.
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